Ciduca Barros
Atualmente, dentro de nossa casa, temos todo tipo de parafernália eletrônica para nos entreter: televisão, videogame, e-book, Netflix, smartphone, I-Pad, etc., e, às vezes, ainda nos sentimos entediados.
E antigamente?
Lá em nossa terrinha, tínhamos apenas um aparelho de rádio (com emissoras AM), revistas que nos chegavam defasadas (algumas através de assinaturas anuais), um único e deficiente cinema (com apenas uma câmera, que nós chamávamos de máquina) e só.
Naquele tempo também nos batia um tédio, mas nós tínhamos uma válvula de escape: o bate-papo da esquina.
Em todas as cidades do interior, inclusive na nossa querida Caicó, havia sempre uma calçada, geralmente numa estratégica esquina, onde, sempre à noite, reunia-se uma turma para uma animada e variada palestra.
Caicó, no século passado. Foto: Brauly |
Ali funcionava um fórum de múltiplos e diversos assuntos e a conversa rolava solta, e democraticamente – do futebol às mulheres, da política à vida alheia, do dia-a-dia ao tempo (haveria inverno, ou não?) e da fofoca às gozações.
Anoitecia, o cara jantava e saiu a pé, vagarosamente e com um palito na boca, à procura do bate-papo da esquina da sua cidade. Em casa, sua família, ainda sem o utilíssimo (mas, indiscreto) telefone celular, ficava tranquila, pois sabia onde o dono do lar estava: no indispensável bate-papo da esquina.
Às 21h00/22h00 horas, o papo ia esvaziando e os palestrantes voltavam para suas casas, na mesma vagarosidade da ida, muitos deles acompanhados de conterrâneos que eram seus vizinhos ou que moravam “pra aquelas bandas”.
Para fechar a noite, a mulher do cara, que também ficava numa palestra generalizada com as suas vizinhas nas calçadas da sua rua, sempre naquelas indefectíveis cadeiras de balanço, já o estava esperando para saber das novidades “lá do centro da cidade”.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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