Ciduca Barros
O código que regia a disciplina do Banco do Brasil (CIC - Codificação de Instruções Circulares) era muito rígido.
Sempre o respeitamos, mas ele nunca foi óbice a nossa maneira descontraída e alegre de trabalhar.
Eu já disse, em linhas anteriores, que nem o sistema hierárquico no estilo militar que o Banco adota nos impedia de provocarmos gozações, mormente durante o expediente interno.
Na relação com os chefes e gerentes, permeavam sempre o respeito e o acatamento, entretanto, lá fora, principalmente no chope da AABB, éramos todos iguais.
Nós tínhamos intimidades, mas com muita responsabilidade.
Na década de 1960, o quadro funcional da agência de Caicó, Rio Grande do Norte, era constituído, na sua maioria, de funcionários antigos.
Certo dia, a agência empossou o seu primeiro Menor Estagiário, logicamente uma pessoa jovem e inexperiente, que foi recebido por todos com o nosso reconhecido respeito.
Por ser o mais jovem, sempre que acionado, era solicitado de maneira carinhosa:
– Filho, leve esses papéis para a gerência!
– Filho, retire essas fichas!
– Obrigado, filho!
– Filho...
Passados os dias, o jovem funcionário, extasiado com tanto desvelo, resolveu se abrir para um dos antigos:
– Seu Barrinhos, eu estou muito satisfeito com a meiguice do tratamento de vocês.
– Por quê, filho?
– Todos são educados! Só me tratam por “filho”.
– É verdade. Gostamos muito de você que é um garoto respeitoso, que se esforça em aprender logo os serviços e que já demonstrou ser de boa índole. Mas, não se iluda, o “filho” é uma abreviatura.
– Abreviatura? De quê?
– De filho da puta, filho! – foi a resposta de Sebastião Barros Sobrinho, de reconhecida irreverência.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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