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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Um violino no Natal

Ivar Hartmann

Como milhões de famílias cristãs ao redor do mundo, estes dias são dias de viagens e festas. Viagens para chegar a tempo nas festas que as famílias realizam nos fins de ano para reencontros. Mesmo em cidades pequenas ou próximos, ficamos meses sem ver pais, irmãos, tios e primos. Então o Natal serve para boas emoções, longos abraços, beijos saudosos. Raízes que se encontram. Isso é lindo. Como lindo é o Natal, na véspera e seus dias subsequentes. E ainda temos a árvore enfeitada, a troca de presentes. E a esperança de que, não tendo sido tão maus, o Papai Noel se lembrará de nós. A mente divaga e o cérebro voa nestes encontros lembrando os que se foram. Fiquei a pensar. Em uma família, lá pela quarta ou quinta geração de participantes de uma festa destas, qual seria o bem material que lembra a todos um ponto comum? Não do dinheiro depositado que muda a cada dia, não das casas que habitamos e desocupamos porque elas não são comuns a todos. Mas haverá uma joia, um móvel, um objeto, que foi usado no passado e que até hoje a família guarda?  Comum a todos, em todas as gerações?
Meu pai, quando jovem, foi violinista. Era contratado para tocar em kerbes e bailes de Estação São Pedro, pequena parada de trem, no centro da colonização alemã, na serra gaúcha. Em uma foto dantanho, posa ao lado de um colega negro, tocador de saxofone. Certamente, pela facilidade das notas, a música Noite Feliz fazia parte obrigatória do seu repertório de fim de ano. Depois trocou o violino pela broca e virou dentista. Profissão menos agradável que a boemia, mas mais rentável. Passadas décadas, sempre com o mesmo violino, tinha um grupo de amigos em São Francisco de Paula que saiam a fazer serenatas nas noites quentes. O violino, alemão, veio para o sul do Brasil, daqui rumou com uma sobrinha para a Flórida e agora o trago de volta. Meio trôpego, riscado, sem cordas. Mas no estojo original. O objeto mais antigo e emotivo de toda a família.

ivar4hartmann@gmail.com

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