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domingo, 15 de julho de 2018

Comendo, mas sem amor


Ciduca Barros

“Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú e lhe disse: Peço-te quem me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido”. (Gênesis 25:29,30)

Sempre há preconceito quando se observam casais díspares.
Quando há diferenças culturais, sociais, étnicas ou econômicas, o homem (ou a mulher) sempre encontra dificuldades, empecilhos e críticas. 
Se o branco casa com a preta, se o pobre namora com a rica, se o culto junta os trapos com a não instruída (vice-versa) sempre são vítimas de severo julgamento das pessoas em sua volta. 
Quando o homem maduro namora uma mulher jovem (ou vice-versa), aí o mundo vem abaixo. 
A sua família, mormente os seus filhos que anteveem uma redução na possível herança, cai de pau no idoso e torna a sua vida um verdadeiro inferno.
Foi exatamente o que aconteceu neste caso. 
Nosso conterrâneo, homem de mais de 70 primaveras, viúvo, com seus filhos criados, adultos e independentes financeiramente, iniciou um afair com uma mulher jovem.
Seus filhos entraram no circuito e meteram o malho no pobre do coroa. 

Não deram trégua ao velho, a todo o momento estavam sempre criticando e condenando a sua ligação amorosa.
Então, certo dia, um deles resolveu bater mais forte:
– Papai, o senhor ainda não se tocou que aquela garota está querendo apenas o seu dinheiro?
E bateu ainda mais forte quando perguntou: 
– Será que o senhor não sente que ela não o ama?
O velho, que não suportava mais tanta aporrinhação, resolveu dar o troco no mesmo diapasão e perguntou:
– Qual é o seu prato predileto, meu filho?
– Eu gosto muito de galinha ao molho pardo (de cabidela, como dizia a finada minha mãe) – respondeu o rapaz.
Então, o anoso, demonstrando toda a sua picardia, indagou:
– E quando você vai comer uma galinha, você pergunta se ela o ama?

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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