Ciduca Barros
O homem seridoense é naturalmente romântico? Não sei.
E se ele não o for, de quem é a culpa? Também não sei responder.
Entretanto, narrarei aqui um fato que talvez os ajude a responder estas indagações.
Seridoense de Currais Novos, ele era meu colega, meu amigo e meu compadre. Infelizmente, não está mais entre nós. Se aqui ainda estivesse, iríamos rir novamente da sua idílica história.
Depois de 60 dias no Rio de Janeiro, participando de um curso, resolveu convidar sua esposa para um fim-de-semana na capital fluminense.
Uma colega de curso, sabedora do convite, sugeriu-lhe que, quando fosse apanhá-la no aeroporto, a presenteasse com um buquê de flores, atitude poética e sinal incontestável de romantismo e amor.
Inicialmente o compadre hesitou, mas a colega, muito persuasiva, conseguiu convencê-lo.
Assim, enquanto se dirigia ao aeroporto, ele entrou em uma floricultura e comprou um lindo e dispendioso ramalhete, com direito a fitinhas e tudo o mais.
Em seguida, dirigiu-se ao ponto de encontro. E lá ficou ele, pouco à vontade com o buquê nas mãos, sentindo-se ridículo, pois não estava acostumado com aquela atitude romanesca.
Seria coisa de machão seridoense?
Quando sua consorte, muito elegante e airosa, apareceu na portinhola de desembarque, empurrando um carrinho de bagagem, logo o viu muito sério e com o ramalhete de flores nas mãos. Teve um enorme susto, pois nunca o vira com tanto rapapé.
Foi por isso que o saudou com estas joias de palavras:
– Opa! O que é isto? Remorso? O que você andou aprontando aqui no Rio de Janeiro?
E o marido, puto de raiva, atirou exacerbadamente o buquê numa lata de lixo e exclamou ainda mais puto da vida:
– Eu sabia que esta porra não ia dar certo!
E então? O homem nordestino é romântico?
E se não o for, de quem é a culpa?
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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