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domingo, 16 de julho de 2017

Os Peregrinos de Sant'Ana


Ciduca Barros

As cidades de Caicó, Currais Novos e Santana do Seridó, situadas no coração do Seridó potiguar, têm um elo muito forte entre elas: todas têm Sant'Ana como padroeira e, logicamente, comemoram ruidosamente, durante o mês de julho, a festa da sua protetora.  
Há vários anos, um devoto caicoense criou “Os Peregrinos de Santana”. 
Anualmente, numa prova de muita fé, os peregrinos percorrem a pé uma distância de cerca de 100 km, no escaldante sol do sertão seridoense. 
A caminhada se inicia na cidade de Currais Novos e termina em Caicó. 
Aliás, a deste ano da graça de 2017 está começando justamente hoje e terminará quarta-feira em Caicó, com o Encontro das Imagens na Catedral de Sant'Ana.
Para quem conhece a região, sabe que é uma mortificação o que fazem aqueles peregrinos. 
Durante esse duro trajeto, para aliviar o desconforto e as dores da árdua caminhada, os peregrinos vão rezando e entoando hinos religiosos, inclusive o Hino dos Peregrinos de Sant'Ana, um cântico que foi composto pelo padre Gleiber Dantas, inspirado naquele ato de penitência.  
Peregrinos de Sant'Ana: uma caminhada de fé, devoção e reações humanas
Então, vamos para o “causo” ocorrido há alguns anos durante uma Peregrinação de Sant'Ana. 
O fato aconteceu no segundo dia, madrugada alta (ainda escuro) quando os peregrinos saíam da cidade de Acari, subindo uma ladeira em curva situada depois da ponte sobre o Rio Acauã. 
Os caminhantes estavam entoando o início do Hino de Sant'Ana que diz: “Senhora doce e clemente, mãe da graça e do perdão...”.  
No exato momento da bendita palavra “perdão”, descendo a ladeira, possivelmente numa “banguela”, surgiu uma carreta com a sua longa e pesada carroceria “comendo” a metade do acostamento. 
A imprudência do motorista espalhou desordenadamente os Peregrinos para fora da estrada, alguns até descendo de barranco abaixo.  
Então, naquele abençoado e perigoso momento, os caminhantes, esquecendo o seu credo religioso, saíram das “doces e clementes” palavras do Hino de Sant'Ana para os populares e chulos xingamentos mundanos que todos os mortais sabem de cor e salteado: 
– Filho da puta! 
– Fresco! 
– Corno! 
– Veado! 
– Quer nos matar, seu puto?! 
– Vá atropelar o cu da sua mãe! – extrapolou alguém, agitando um terço.

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