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segunda-feira, 19 de junho de 2017

No leito de morte


Ciduca Barros

No domingo passado, eu escrevi a respeito de um velho conterrâneo em seu leito de morte. 
Aproveitando o tema lúgubre, passo a discorrer sobre a história de outro conterrâneo em seus últimos momentos de vida.
Ele foi um cidadão de muita respeitabilidade em seu município. 
Fazendeiro, considerado grande produtor, pecuarista com um bom rebanho de bovinos. 
Patriarca de uma grande família, pai de muitos filhos e, logicamente, com uma vasta descendência.
Com a idade avançada, atravessou um longo período de doença. 
Próximo do seu passamento, alquebrado pelos anos e pela enfermidade que o vitimou, informou aos seus familiares que não queria mais receber as visitas dos amigos, o que era justo diante de suas frágeis condições físicas. 
Seus familiares passaram a cumprir, fielmente, o seu desejo que, posteriormente, comprovariam ser o último.
Dias depois, alguém bateu palmas à porta de entrada da casa e uma das empregadas foi atender:
– Eu vim ver o meu amigo Joaquim, pois soube que está muito doente – informou o visitante.
Naturalmente, a empregada explicou a situação do moribundo:
– Ele está tão doente, que não pode mais receber visitas.
– Que pena! Eu estou devendo um dinheiro a ele e queria lhe pagar pessoalmente.
Lá da camarinha, onde pouco a pouco o velho fazendeiro se ultimava, através das sombras inevitáveis da morte, num raro momento de lucidez, ele ouviu o diálogo (principalmente a palavra mágica: dinheiro), reconheceu a voz do seu devedor e, num esforço descomunal, com a fala rouca e crepitante dos moribundos, conseguiu dizer:
– Deixe o meu compadre Severino entrar, Maria!

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