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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Diarreias mentais - XXXIX

Malas

De repente, eu me dei conta de que as malas sempre estiveram em nossa vida. Nem sempre elas (as malas) são notadas, mas em várias fases de nossa vida elas estão presentes e são muito úteis. Partidas nos remete a malas. Chegadas nos remete a malas. O recém-casados levam malas. O casamento acabou, quem parte leva as mágoas e as malas. Muitas vezes, nossas malas são testemunhas silenciosas de nossas alegrias, tristezas e frustrações.  
Lembro-me bem de que na nossa juventude, quando uma garota tinha a bunda grande nós dizíamos:  “ela tem uma mala grande”. E alguns cínicos ainda lhe perguntavam: “você vai viajar? ”. E a menina da bunda grande, demostrando inocência, dizia: “não, por quê? ”. Ao que o cretino completava: “por causa da mala”. 
Aquele sujeito chato, inconveniente e dono de um papo broxante. Aquele cara que, comprovando ser indiscreto e grosseiro, nos aborda nas horas mais inoportunas é conhecido como: “um mala sem alça”. 
No final da década de 1950, quando deixei a minha terrinha com destino à Natal para estudar e trabalhar, portava comigo um tipo de mala que era muito usada na nossa cidade. Parti de Caicó com uma mala comprada na feira livre. Era uma mala de madeira, revestida com papel de saco de cimento e pintada de cor amarela, com uma alça que me doía as mãos. Os fabricantes daquele tipo de mala eram os irmãos Genival e Diógenes, que acumulavam suas funções administrando o Bloco da Ala Ursa, nos carnavais do passado caicoense. 
Quem esqueceu daqueles camelôs que frequentavam as nossas feiras livres do interior, com o microfone preso no peito, uma boca de ferro (alto falante) num canto e uma misteriosa mala fechada no chão? O camelô vendia algum tipo de elixir, uma panaceia que, segundo ele, curava todas as mazelas, e dizia que naquela mala fechada ele tinha uma cobra venenosa. O lance da cobra era para atrair o público para o seu produto. E como ele era conhecido? O Homem da Mala da Cobra!  
Malas também constam do nosso cancioneiro popular: “Estou de volta pro meu aconchego/Trazendo na mala bastante saudade”, diz a cantora Elba Ramalho, na bonita composição “De volta pro meu aconchego”. 
Atualmente, as malas ganharam formatos modernos e elegantes (tem até rodinhas), e na política brasileira ficaram em grande evidência. Não de um modo romântico nem idílico como tentei descrevê-las aqui, mas de uma maneira escandalosa: cheias de dinheiro oriundo de propinas. Malas recheadas de dinheiro, passaram a fazer parte de processos judiciais como provas de atos de desonestidade e comprovação da corrupção que assola o país. 
Os “malas ladrões”, com suas elegantes malas recheadas de grana suspeita, também roubaram a candura das nossas malas de viagem do nosso feliz e despreocupado passado!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha


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