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domingo, 25 de junho de 2017

O sociopata

Juliano Martinz

Menina festeira apaixonou-se por sociopata. Um eclipse, uma dança solitária. Tinha os olhos azuis, ele. Mas não brilhavam. Recôndito num mundo paralelo, era senhor ali. 
Ela, cobria-se de regras, regrava-se posturas, roupas e sorrisos. Saltos desenfreados numa pista qualquer, pés descalços, os dedos emanando gargalhadas. 
Ele, avulso, olhar indireto refeito por quatro paredes. Conversava sozinho, às vezes. Ela, também.
Num encontro, ela lhe sorriu. Ele desviou as sobrancelhas. Força que lhe imputava medos. Sociopatia que lhe amputava credos. Tremia. Não era o que queria. Mas tremia. Distúrbio de juízos. 150 mg de paroxetina socando seu cérebro.
– Me paga uma vodka? – ela, sorriso nos poros.
Diria que não podia beber. Diria que poderia morrer se ela continuasse lhe sorrindo. Diria, se soubesse ao menos o que dizer.
– Claro – respondeu.
Ela falava. Ele escutava. Na sua vez, silêncio, apenas. Distraído com pensamentos sobre o que dizer. A olanzapina correndo suas veias, rasgando seus tecidos. Era tênue a liberdade. Era sincera a preocupação.
Ela apaixonou-se. Mas ele a recusou. Não por ser incapaz de se apaixonar. Não por ser insensível. Mas no seu mundo, sabia em que terreno pisar. Sabia onde havia pedras e onde havia precipícios.
No seu mundo, ele era o senhor.

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