Ciduca Barros
Aqui em Natal, eu moro num edifício ao lado de algumas clínicas médicas.
Da janela do meu apartamento vejo, diariamente, viaturas do interior do estado deixando ou apanhando pessoas que vieram para tratamentos médicos.
Recentemente, um daqueles veículos fez tanto barulho embaixo de minha janela, que me despertou da minha merecida sesta vespertina (sou aposentado, né!).
E resolvi conferir que tipo de carro era aquele.
Era um carro antigo, com placas de um município qualquer, de um ano que eu não pude precisar, da marca FIAT, que, simplesmente, não queria “pegar”.
Com o capô aberto, com o filtro de ar já tirado, tentavam aquele velho truque de fazer a gasolina chegar ao carburador com a palma da mão.
O cheiro de gasolina chegou às minhas narinas, mas o combustível não chegou ao velho carburador.
Alguém sugeriu fazer uma “chupeta”, quando alguns heroicos voluntários se propuseram “empurrar” o veículo.
Saíram “empurrando” o carro de ladeira abaixo, até sumir das minhas vistas, deixando-me com as recordações dos nossos carros do passado, aliás dos nossos “carros velhos”.
E no bojo das minhas recordações automobilísticas lembrei-me de duas historietas e as conto abaixo.
Primeira. Há décadas, o motor de arranque (motor de partida) dos automóveis era acionado através de um pedal, localizado acima do pedal do acelerador.
No momento de fazer o “carro pegar”, o cara pisava, suavemente com o calcanhar, no acelerador e, com a ponta do pé, calcava o pedal do motor de arranque.
Daí na onda de novas tecnologias no mundo dos veículos automotores, apareceu uma grande novidade: o motor de arranque (motor de partida) passou a ser acionado através de um botão situado no painel (tabelier) do automóvel.
Um bom filho, desejando presentear o seu pai, trocou o ultrapassado carro do velho por um com a modernidade do botão do motor de arranque em cima.
Tempos depois, esperando o feed back, perguntou ao pai:
– E aí pai, está gostando do novo carro!
– Estou, sim! Mas estou com um problema!
Estranhando aquilo, o bom filho perguntou:
– Que problema, pai?
– Agora, eu vivo com uma dor na virilha!
– Por qual motivo, pai?
E a resposta do velho foi uma bomba no progresso da indústria automotiva:
– Eu acho que é de tanto levantar a perna para pisar no botão do motor de arranque!
E ainda complementou:
– Ele agora fica muito alto!
Segunda. Já que falei em bom filho, aqui vai outra história envolvendo bom filho e automóvel.
Há alguns anos, numa determinada cidade do Seridó, um certo agropecuarista, com seus negócios sólidos e progredindo, ainda não possuía um automóvel.
O seu filho, já adulto e um profissional de sucesso na capital, observou aquilo e sugeriu ao pai:
– Pai! O senhor precisa parar de pagar tanto frete! Já estar na hora de comprar uma camioneta e aprender a dirigir. O velho aceitou e o camioneta foi comprada. O problema surgiu na primeira aula de direção do velho.
Naquele tempo, não havia autoescola e as pessoas aprendiam a dirigir através de motoristas experientes.
Então a pessoa encarregada de ministrar a primeira aula, explicou:
– Preste atenção, seu Severino! O senhor liga o motor do carro, sempre em “ponto morto”. Em seguida empurra o pé esquerdo no pedal esquerdo (embreagem). Daí o senhor passa a primeira marcha, empurrando esta alavanca para cima.
E continuou a aulinha:
– Sempre com cuidado nos pedestres, o senhor vai, suavemente, empurrando pé nesse pedal do meio (acelerador) e retirando, paulatinamente, o pé do pedal esquerdo.
E antes que o instrutor lhe transmitisse mais ensinamentos, o velho exclamou:
– Basta! É muito difícil! Isto é serviço para uns dez homens!
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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