Ivar Hartmann
O homem saiu dos campos onde era pastor e depois agricultor e foi viver em cidades. Precisou se adaptar. Quando eu era pequeno morava no centro de Porto Alegre. Meu contato com a natureza era um pequeno pátio de muros altos com um abacateiro. Os pássaros eram tico-ticos. Não são um primor de beleza, não é mesmo? Um dia minha mãe me levou para férias na casa de uns sobrinhos dela, Lange e Auler, em Barro Preto, interior de Arvorezinha-RS. Um deles, Theobaldo, tinha um viveiro de pássaros no pátio. Viveiro! Sabem lá o que é isso? Eu pequeninho olhando aquele mundão de aves cantando. Coloridas, voando em todas as direções em um enorme aviário. Na hora de alimentar os pássaros ele me deixava entrar junto, cuidando para não pisar nos pequeninhos. Que felicidade da criança. Imaginem, ainda lembro tantos anos depois. Há dias um amigo me convidou para conhecer o criatório dele de periquitos australianos, aqui perto de onde moro. Ele não sabe mais quantos tem. Mais de quatrocentos. Ocupam um pequeno armazém e dentro o enorme viveiro.
Ele largava a comida no chão perto de nós e os passarinhos vinham para comer, subiam nos calçados, voavam para nossos ombros em uma algaravia maravilhosa. De novo. Tantas cores, tantos voos rasantes. São bichinhos selvagens, mas um deles, branquinho insistia em bicar o pescoço de meu amigo. “Hã - disse ele - este é acostumado a fazer isso. Esta meia hora aqui, todo dia, depois do trabalho é meu melhor remédio para o stress!” Quem duvida? Na minha casa, sustentados por bananas e mamões, sabiás, saíras e bem-te-vis voam pela sacada enquanto se toma mate. Do outro lado da casa, há um bebedouro de beija flor. Quem mais dá prejuízo, bebendo da água adocicada com açúcar cristal, são as Cambacicas ou cebinhos. São vorazes. Volta e meia, periquitos e tucanos andam pelo bairro que é bem arborizado, aproveitando o mato de um morro próximo. Para alegria dos citadinos, os pássaros também migraram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário