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domingo, 7 de janeiro de 2018

Hospitalidade seridoense

Ciduca Barros

Acredito que existem muitas pessoas que irão concordar comigo. 
Por mais complacentes que sejamos, por mais hospitaleiros que possamos ser, há sempre aquele momento em que determinadas visitas não são bem-vindas a nossa casa.  
Por outro lado, com nossa larga experiência, também sabemos quando “sobramos” em certos ambientes. 
Para comprovar minha elucubração, passarei a contar este curto causo abaixo. 
Aquele currais-novense, filho de uma família humilde, tentando melhorar de vida, foi muito cedo para Brasília e lá se tornou funcionário público federal, logicamente, com um polpudo salário. 
Mas ele não era um bom filho, ou seja, esqueceu os seus parentes que continuaram morando em Currais Novos e que continuavam honrados, mas pobres. 
Passados alguns anos sem notícias do mano “bem de vida”, um dos seus irmãos se mandou para a Capital Federal com o objetivo de também vencer na vida e sair daquela “pindaíba seridoense”. 
Sem nada combinar com o parente “brasiliense”, comprou com suas parcas economias uma passagem de ônibus e, depois de uma rígida dieta de bolachas secas e alguns quilos a menos, chegou ao destino. 
Então, de repente o mano rico viu chegar à sua porta, com uma surrada mala na mão, o seu mano pobre e esquecido lá dos sertões do Seridó. 
E o diálogo entre os dois foi curto, sincero e cruel: 
– Mano!  Chegou quando? Vai embora quando? 
O outro, que havia arriado a mala no chão para receber um caloroso abraço, agarrou-a incontinenti e respondeu:  
– Oi! Cheguei há pouco tempo e vou embora agora mesmo. 
Deu as costas ao irmão rico e partiu de volta.  
Nada como a hospitalidade do povo do Seridó.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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