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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Gilson, o inconfundível

Gilson Cambista, o inconfundível
Julinho de Adelaide

Certa ocasião quando morou em São Paulo, num miserê lasqueira e doido pra tomar umas e outras, Gilson Cambista resolveu fazer um “lance” num ponto de ônibus no centro da cidade.
Naquele tempo não tinha esse negócio de condutor esperar o passageiro se acomodar para seguir viagem, que nada: mal a pessoa botava os pés na entrada do busão o motorista dava aquela arrancada. Salve-se quem puder!
Pois bem, observou atentamente e ficou de olho num homem bem vestido que usava um relojão vistoso, bonito e dourado, exatamente como os receptadores da Boca do Lixo gostavam. Não deu outra: quando a vítima subiu o primeiro batente, o ônibus já foi acelerando e nisso Gilson deu o bote. Crime perfeito! 
Relógio negociado, dinheiro no bolso, final de semana com os amigos e o larjan que faltava para finalmente “tirar o queijo” num daqueles puteiros verticais do Bairro da Luz.
Passados anos, estava de volta e morando em Caicó novamente. Era mês de julho, Festa de Sant'Ana, bar de Zeca Barrão, meio dia em ponto. Lá estava ele tirando aquela “palha” após o almoço, sentado numa cadeira de fio que Dedé Viola deixara ali pela calçada. Testa suada, palito de dente no canto da boca e a inseparável boia do jogo do bicho no bolso da camisa. Chega roncava!
Mais eis que o inusitado acontece: o dito cidadão que teve seu relógio subtraído também tinha familiares seridoenses e havia resolvido conhecer a cidade maravilhosa e os parentes distantes, aproveitando o período de Festa de Sant'Ana para unir o útil ao agradável.
Lá estavam os dois no Bar de Zeca. Ao se deparar com Gilson o forasteiro teve aquele sobressalto e disse: 
- Eu lhe conheço cabra safado! Foi você quem roubou meu relógio no centro de São Paulo. 
Meio zonzo ainda por ter sido despertado de seu merecido descanso de forma tão grosseira, Gilson respondeu: 
- Eeeeeeeuuuuuuu?
Terminaram na delegacia de Polícia Civil, onde o delegado, após insistentes pedidos da vítima para trancafiar o batedor de relógio, disse nada poder fazer, pois precisaria de alguma prova, testemunhas, etc., para decidir qual seria o procedimento mais adequado.
Gilson, calado estava e calado permaneceu durante toda a conversa, mas no final resolveu falar e saiu com esta pérola: 
- Eu acho que o senhor deve estar me confundindo com outra pessoa! 
Nisso o delegado já começa a rir da situação e o paulista responde de pronto: 
- Isso é impossível: não existe ninguém no mundo, nem de perto, parecido e feio. Você é inconfundível!

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