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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Despertar

Michelle limA


As pálpebras insistem em continuar pesadas, sonolentas. Com dificuldade, elas se abrem. São seis da manhã, imagino! Uma claridade toma conta do quarto. A claridade de um dia ensolarado, de céu sem nuvens. A luz incomoda a preguiçosa iris, que se contrai a cada piscada. Maldita Fotofobia. “Por favor, alguém apaga isso”, penso. Meus olhos já começaram a coçar. Passo a mão sobre o rosto. Bocejo. Os olhos se fecham. O sono persiste. Eu volto a abri-los. Vejo! No teto uma luminária. Me lembra o planeta Saturno, com esses anéis transparentes, em volta de uma lâmpada fluorescente velha e empoeirada. Reconheço-a. Estou no meu quarto. Segundo andar de um prédio de escadas, cor amarelo desbotado, apartamento pequeno, um conjugado. Lembrei! Hoje é quarta-feira, 17 de Setembro de 2014. Como o tempo voa, já se passaram sete meses desde meu último aniversário. Volto a olhar a luminária. Nossa, quanta poeira aí em cima. Acho que deveria deixar um bilhete a diarista, explicando sobre a necessidade de tirar o pó dos objetos, falar da minha rinite, das constantes mudanças de temperatura na cidade, de minha saúde frágil. Desisto. A luz novamente volta a incomodar. O quarto tem um tom bege agora. Imagino que a cortina da janela esteja aberta. Viro lentamente o rosto em direção a ela. Tenho razão, já é dia claro. Mas, sono a esta hora?! não é possível entender. Mais uma vez levo as mãos aos olhos, trêmulas, assustadoramente fracas. Nossa, penso eu! O que está acontecendo?! Meu coração permanece disparado. Ofegante, tento levantar. Inútil! O corpo não responde aos comandos do cérebro. Se eu penso “hora de levantar”, então automaticamente deveria girar o tronco, esticar as pernas, içar as ancas e me espreguiçar, certo?! Não. Nada está certo. Algo está fora de ordem. Ou as ordens estão fora de mim. Já não sei. Não resisto, deixo meu peso sobre o colchão. Barriga pra cima, braços jogados ao lado do corpo e cabeça afundada no travesseiro, mole. Sinto uma leve indisposição no pescoço, uma pontada de dor. Concluo que não devo ter dormido muito bem esta noite.
  

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