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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Eternamente, Dr. Chiquinho

Busto de Dr. Chiquinho, Burra Cega, no Coreto da Praça Dinarte Mariz

Ninguém é maior do
que pode ser,
mas pode ser maior
do que é

Francisco de Assis Medeiros

Na última sexta-feira de julho, dia 28, Caicó homenageou o ex-prefeito Francisco de Assis Medeiros com a inauguração de um busto e a nomeação do Coreto da Praça da Liberdade com o seu nome.
Familiares, amigos e autoridades prestigiaram o evento, realizado em frente à residência da família, que lhe serviu como local de trabalho, de descanso e, agora, de referência à inteligência e criatividade do povo de Caicó.
Burra Cega, como ele era carinhosamente chamado pelos eleitores no exercício do cargo de prefeito, está eternizado na memória do povo de Caicó e do Seridó.
Durante o ato, a senhora Zélia Dantas de Medeiros, viúva, após o descerramento do busto em homenagem a Dr. Chiquinho, pronunciou o seguinte discurso:

O dia de hoje é de agradecimento à Egrégia Câmara Municipal de Caicó pela distinção conferia a Chiquinho (Francisco de Assis Medeiros), nomeando este Coreto com seu nome, na praça Senador Dinarte de Medeiros Mariz, seu mentor político e amigo, por quem ele tinha uma profunda admiração. 
Ser prefeito de Caicó ainda muito jovem e quando o município e o país enfrentavam momentos difíceis, foi um grande desafio. 
Do seu plano inicial de governo, forjado nas reivindicações mais legítimas e populares, teve de lidar com a escolha das prioridades para executá-lo, ante a queda de receita, com o corte drástico das verbas públicas, já anunciado mesmo antes de sua posse; e o enfrentamento de dois anos da seca que assolou a região e abalou ainda mais a tão combalida economia do município. 
Mesmo assim, muita coisa foi feita no âmbito administrativo, educacional e cultural. Conhecedor da zona rural, ele voltou sua atenção para os distritos de Lajinhas e Palma, descentralizando a administração, melhorando as estradas municipais, abrindo e mantendo escolas, postos de saúde e assistência direta aos pequenos fazendeiros, com a ajuda de órgãos como a Ancar, hoje EMATER. 
Como um comunicador nato, utilizou todos os meios de comunicação disponíveis na época para transmitir ideias e visões de futuro aos conterrâneos e aos seridoenses sobre projetos que objetivavam o desenvolvimento conjunto da economia e da educação dos seridoenses. 
Cultor do Direito, exerceu a advocacia plenamente, com a mesma dedicação, tanto nas causas mais simples quanto nos grandes embates enfrentados nas épocas em que chefiou órgãos públicos e autarquias estaduais e federais. 
No entanto, sua compulsão pela leitura o levou a enveredar pelos caminhos da literatura e da pesquisa histórica. 
O menino de Caicó que viajava através dos livros alçou voo e foi enriquecer sua já tão vasta cultura nos grandes museus, catedrais, palácios e obras monumentais ao redor do mundo. Brotou o escritor e o pesquisador histórico que nos legou obras de fôlego tanto em crônicas como em livros tais quais os que publicou nos últimos 15 anos de sua vida. 
Zélia Medeiros ao lado do busto de Dr. Chiquinho
Hoje aqui, cilente, eternizado no bronze, ele olha para a casa onde nasceu, para praça onde foi criança, se descobriu jovem junto como muitos de seus amigos que já o precederam na caminhada final da vida; e onde vibrou com as grandes manifestações cívicas e políticas que se realizaram neste mesmo coreto. 
Como ele me dizia, ao fechar os olhos nas noites da praça deserta, passava a ouvir as retretas, o riso dos jovens quando namoravam e caminhavam ao redor da praça; o bulício das festas e a voz dos grandes oradores que por aqui passaram, como José Augusto Bezerra de Medeiros, Walfredo Gurgel, Dinarte de Medeiros Mariz e o Brigadeiro Eduardo Gomes, na época da redemocratização do país, quando candidato a Presidente da República 
Daqui do alto agora verá o nascer do sol na fimbria do horizonte, delineando a Serra de São Bernardo, a Capelinha de São Sebastião e ouvirá o arrulhar dos pássaros desde o Poço de Santana. Se os pássaros a ele acolherem assustados pelo toque dos sinos da Catedral, serão bem-vindos. 
Enfim, ele se chamava Francisco de Assis. Virá sobre si tanto o sol inclemente quanto a chuva benfazeja, tão cara ao coração dos seridoenses.
E quando a cruviana chegar, anunciando que a noite se avizinha e encrespando as águas mansas do Itans, seu olhar se estenderá pela Cidade que ele tanto amou. 
Do homem, fica a lembrança. Para os amigos e familiares, a saudade. E para os jovens que não o conheceram, a lição de vida que seu espírito irrequieto para além do tempo sempre preconizou: “Ninguém é maior do que pode ser; mas pode ser maior do que é”. 
Para os que creem em Deus, a súplica pelo seu descanso “in gloria dei Patris”.
Muito obrigada.

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