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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Das irmãs que abrigam o amor



Tem circulado a triste notícia de que as freiras do Abrigo foram chamadas de volta pela Província da Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo sediada em Recife-PE. Perda imensa para o Seridó que a gente ama, especialmente, para o Caicó de todos nós, caso a partida se concretize.
O Abrigo Dispensário Professor Pedro Gurgel, justa homenagem ao pai de Monsenhor Walfredo Gurgel, foi fundado no dia 16 de agosto de 1949, ainda sob o vigoroso pastoreio de Dom José de Medeiros Delgado, mas somente inaugurado no dia 2 de julho de 1951 quando chegaram a Caicó as primeiras irmãs da Caridade (Genoveva Borba – superiora – e Helena Silva). Segundo pesquisa publicada pelo Advogado e Professor José Pereira da Costa a primeira diretoria (provisória) do Abrigo era composta pelos caicoenses Joel Adonias Dantas, Levi de Assis Dantas e José Rocha Diniz. Em 1951 o Abrigo foi entregue a Província Brasileira das Filhas da Caridade.
A partir daí a maioria conhece bem a história... As freiras se embrenharam no bairro Paraíba não apenas cuidando dos idosos, mas trabalhando na catequese das crianças, ajudando a organização dos jovens, amando os pobres e com eles vivendo, tanto material, quanto espiritualmente. Ninguém consegue contar a história do bairro da Paraíba sem mencionar a relevante e eficaz participação das irmãs do Abrigo. Aliás, inúmeras famílias de toda a cidade e de municípios vizinhos foram socorridas pelas freiras no trato de seus idosos. Dificilmente existirá quem não tenha, de alguma forma, batido à porta do Abrigo e das freiras da caridade.
Em 1953, no dia 23 de março, chegaram em Caicó duas das mais conhecidas Filhas da Caridade: Maria José Raulino e Lúcia Vieira. Irmã Lúcia ainda vive em Caicó, nas dependências do Abrigo. Nasceu no dia 14 de março de 1926 em Viçosa, Ceará. É, talvez, o rosto mais visível da obra de caridade e sinônimo de disponibilidade à vida consagrada e ao povo. Não é nada fácil imaginar Irmã Lúcia, depois de 64 anos de completa doação a Caicó, precisar bater as sandálias, afivelar malas e partir. A poeira de suas incontáveis caminhadas no bairro Paraíba ou no centro da cidade em busca de donativos para o Abrigo deve ficar com ela, em Caicó, e na memória de uma imensa estima que muitos nutrem por sua história de vida.
Irmã Lúcia Vieira, o rosto mais visível da obra de caridade
Evidentemente que outras tantas fizeram – e fazem – o Abrigo Pedro Gurgel e seus múltiplos serviços, inclusive, leigos e sacerdotes. A Festa de Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa, por exemplo, é uma bonita associação de esforços que resultou em um dos maiores eventos de Caicó. A ampliação das instalações físicas também foi fruto do empenho de muitos, dentre os quais, os sacerdotes que prestam assistência eclesiástica ao Abrigo, a Congregação e o povo do lugar. A pesquisa do Professor José Pereira relaciona os principais capelães daquela obra de fé e assistência ao longo de quase 70 anos: Padres Cornélio, Guilherme, Geronimo, Lino, Aluísio, Walfredo Gurgel, João Agripino, Itan Pereira, Antonio Balbino, João Medeiros Filho, Edmundo Kagerer, Ausônio Tércio, Everaldo, Aldo e José Tadeu.
A propósito, recentemente o Reverendo Padre João Medeiros publicou na imprensa uma manifestação de apelo a Congregação para que as irmãs permaneçam em Caicó, dentre outros, com o seguinte e razoável registro: “Homens de bem, religiosos, sacerdotes e leigos engajados tiveram a primeira semente de vida presbiteral, religiosa ou profissional plantada no seio do Abrigo. Cabe recordar que essa entidade não é e não era apenas uma instituição que cuidava de idosos. Nem é isso o que se deseja e aspira. O Abrigo era e poderá continuar sendo um centro de evangelização e pastoral. Isto não está sendo discutido. A cruzada eucarística, a juventude mariana, o apostolado da oração, as equipes de oração e estudos bíblicos, a escola anexada ao Abrigo etc. animados pelas irmãs do Abrigo foram celeiros de vocações e sacramento do Cristo nessa cidade seridoense”.
Ora, talvez não seja fácil, mas o apelo é de todos: as irmãs, que abrigam o amor dado sem qualquer interesse, que difundem o bem em tempos de aparente prevalência do mau, fiquem no Caicó de todos nós como mães próximas dos filhos, afinal há uma maternidade reconhecida entre o bairro Paraíba as freiras do Abrigo. Maternidade que não pode terminar agora. Os filhos precisam das mães.

Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó e escreve às segundas-feiras.

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