Estrias, celulites e gordurinhas
Primeiramente, o conceito de feio é extremamente relativo. Às vezes, o que fere a vista de alguém é aceitável para outro. Quanto ao sexo feminino, infelizmente, o padrão de beleza física vem nos sendo impingido, através dos tempos.
Num passado remoto, foram os pintores e escultures, que moldando mulheres “cheinhas”, estabeleceram que o protótipo feminino de beleza teria que ser sem curvas. Cito aqui as pesadas matronas de Renoir e as mulheres corpulentas de Fernando Botero. Os seios pequenos, as pernas finas eram percebidas pelos homens como uma negação da feminilidade.
Ser uma mulher considerada feia, nas primeiras décadas do Século XX, era terrivelmente negativo. Com o advento da fotografia e do cinema, a imprensa divulgava e exaltava os tipos femininos com o glamour das atrizes Theda Bara e Greta Garbo, que foram símbolos maiores das mulheres ditas vamps.
Transcrevo abaixo um texto do ano de 1928, extraído da Revista Cinearte, periódico que foi editado no Rio de Janeiro, entre os anos 1926/1944, ocasião em que o cronista traçava um perfil de beleza:
“Atraente e perfeito, pelas atitudes provocantes, o olhar liquefeito e perigoso, no andar lento e sensual, nos lábios contornados e convidativos. As que têm isso os homens seus escravos são”.
A indústria cinematográfica americana, durante muitos anos, impôs um padrão estético de beleza que ainda trazia em seu bojo o belo feminino como fator preponderante de desejo.
Estou cada vez mais convencido de que a mulher quando se enfeita é pensando no que as demais irão dizer e não para atrair os olhares masculinos.
As mulheres precisam saber que alguns homens gostam de ver estrias, celulites, culotes e, na grande maioria, gostam de gordinhas.
Estão chocadas com esta assertiva? Eu tenho um amigo que curte alisar as celulites da sua amada e ainda alardeia: “Adoro passar a mão naqueles calombinhos”. Outro já se amarra em mulher que tem acúmulo de gordura localizada na face externa da articulação coxofemoral (que, as próprias mulheres, pejorativamente, chamam de “culotes” ou “cartucheiras”). Eu jamais ouvi ninguém do mundo masculino, seja ele jovem ou maduro, usar os termos culote ou cartucheira.
E as gordinhas, que outras mulheres, desagradavelmente, chamam de balofas? Estas são um capítulo à parte e sobre elas eu já falei quando escrevi o texto A Miss Gorda. Quem era a miss gorda? Vou recontar abaixo.
Recentemente, aconteceu mais um concurso Miss Universo, vencido pela representante da França. Seria desnecessário dizer que foi um desfile de beldades, com mulheres deslumbrantes, inclusive a nossa bela representante.
Para mim, um homem da velha guarda, que pouco entende de mulheres, mas nada entende de misses, assisti (estarrecido) posteriormente pela tevê, uma reportagem com especialistas em concursos de beleza feminina, afirmando que a Miss Canadá (que se classificou em 9º lugar) estava acima do peso estabelecido pelos “padrões de beleza” internacionais, ou seja, a mulher estava gorda. A reportagem rolando e, simultaneamente, exibindo flashes da miss que estava sendo taxada de gorda.
Fiquei boquiaberto e, ao mesmo tempo, de queixo caído. Minha gente, a mulher é estonteantemente boazuda!
Com aquele mulherão tomando toda a tela do meu aparelho de televisão, exibindo coxas, peitos e bunda “foras de série”, fiquei ouvindo as blasfêmias daqueles ditos entendidos contra aquela gostosura.
Metade dos homens que eu conheço – a outra metade está broxa – desejaria aquela mulher em sua cama e aqueles imbecis classificando aquela deusa como acima do peso! Tenham dó!
Ainda revoltado, acredito que os aludidos padrões de beleza são estabelecidos por quem não gosta do sexo feminino e que ficam interessados em desqualificar a mulherada. Quem entende de corpo de mulher é macho, porra!
Mulher tem que ter muita bunda, ser pernuda e com peitos avantajados!
Mulher que é mulher tem que ser “quiném” Miss Canadá, a gorda!
Chamar um mulheraço daquele de gorda é uma grande diarreia mental!
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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