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domingo, 4 de agosto de 2019

Cercas de arame farpado


Ciduca Barros

A gente do Seridó, mais do que qualquer povo, adora meter um adágio na sua conversa. 
Um exemplo patente do que digo, foi D. Chiquinha, minha mãe. 
Ela dizia sempre um adágio, provérbio ou ditado como reforço e ilustração em tudo que ela afirmava. 
E tem mais! O seridoense quando não encontra um refrão para ilustrar o que diz, ele cria.
Em todas as cidades lá paras bandas dos sertões do Seridó, tem sempre uma calçada (de preferência numa esquina) onde os homens da terra se ajuntam para conversar (ou falar da vida alheia?). 
Naquela cidade não era diferente. 
Certa noite, estavam muitos dos seus munícipes ali, naquele velho bate-papo, quando passou uma moça metida num vestido de renda, usando apenas uma calcinha por baixo.
Tão vendo? Mulher, hoje em dia, não usa mais roupa de baixo, como antigamente – disse um velho.
Aí, balançou a cabeça e completou:
– Um vestido daqueles é como uma cerca de arame farpado!
Um deles, estranhando a comparação, perguntou:
– Cerca de arame farpado!? Como?
E veio a explicação:
– Cerca a propriedade, mas não a esconde...

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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