Páginas

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Diarreias mentais - LXXIII


A polícia tem fome

Nós, pobres pessoas comuns do Rio Grande do Norte, estamos vivenciando (e sofrendo na pele) as sérias consequências de uma greve das polícias civil e militar.  
O Governo Estadual tem que parar de afirmar que a greve é ilegal e dar um jeito de pagar os salários atrasados dos policiais, que também são trabalhadores iguais aos demais, com suas respectivas famílias com as mesmas necessidades básicas de todos nós, e que necessitam, urgentemente, das suas remunerações atualizadas.  
Como viver condignamente sem ter comida na mesa há mais de dois meses? 
O Governo Estadual, sem prestar nenhuma explicação porquê os cofres do erário estão vazios, achou mais prático convocar o Exército, Marinha e Aeronáutica do que achar uma maneira de pagar os salários dos “hómis”.  
O absurdo disso tudo é que não é a primeira vez que a Polícia Militar precisa se utilizar do instituto da greve para fazer valer os seus justos e lídimos direitos. Na década de 1960, no governo de Aluísio Alves, os policiais militares também entraram em greve reivindicando um reajuste salarial, pois, segundo um slogan da época (e a imprensa, na ocasião, corroborava) “A POLÍCIA TEM FOME”.  
E para que o filme daquele tempo, seja uma cópia exatamente igual ao filme atual, o Governador Aluísio Alves também pediu socorro às Forças Armadas.  
Como testemunho do que afirmamos aqui é verdadeiro, transcrevemos um texto, cujo título é “Dinheiro da Fome”, publicado à página 52, do livro “O HOMEM QUE RI”, publicado na década de 1980, pelo escritor açuense Celso da Silveira: 
“Durante a famosa crise da greve da Polícia Militar, no governo de Aluísio Alves, por volta de 1962, o Palácio da Esperança vivia já cinco dias de apreensão. 
De um lado, o governador dizia que só dialogava se cessasse a greve. Do outro, a Polícia dizia que só parava o movimento quando obtivesse aumento, lembrando o slogan ‘A POLÍCIA TEM FOME’, que o caso era de remuneração insuficiente.  
O governo mobilizava as áreas militares federais – Marinha, Exército e Aeronáutica – na busca de apoio das Forças Armadas. O Comandante da Guarnição – Gen. Omar Emir Chaves, estava ausente, de férias. Havia dúvida e incerteza no ar. Foi quando alguém da Casa Civil, depois de uma ligação telefônica para o General, no Rio de Janeiro, informava a todos no salão de despachos: 
– Aluísio, o general Omar disse agora que renuncia às suas férias e está vindo para Natal. Agora a greve vai acabar. 
Nesta altura da informação, Celso da Silveira, que era Assessor de Imprensa do governador, cortou a conversa: 
– E esse general, vem trazendo o dinheiro pro aumento do pessoal? 
Foi uma gargalhada geral”. 
Alguém tem dúvida sobre a reprise do filme?  
Vemos apenas uma diferença. Em 1962, Celso da Silveira fez virar uma “comédia”. Em 2018, o triste e lamentável filme atual, com os familiares dos policiais passando sérias necessidades, com a violência solta nas ruas e os potiguares acuados dentro de casa, tornou-se um “filme de terror”.

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

Nenhum comentário:

Postar um comentário