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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Diarreias mentais - LXXII


Analfabetos políticos

Todos afirmam, à boca pequena, que o Brasil vai mal, que o Brasil está à beira do abismo, que estamos no fundo do poço, que não existe mais saída para o Brasil, blábláblá. 
É o que alguns chamam de Síndrome do Vira-lata.
Realmente, a nossa caótica situação socioeconômica, naturalmente causada por anos de medidas políticas equivocadas e, até, desonestas, nos remetem sempre para o pior dos piores. 
A mídia, cada vez mais célere e presente, não nos deixa esquecer as calamidades causadas por nossos políticos incompetentes e desonestos, mas em que época esta espoliada nação esteve bem e governada por homens de caráter e que nunca estiverem metidos em escândalos?
Leiam esta séria e contundente declaração e decifrem quem disse isto e quando:  
“Assassinaram o meu antecessor. Escolheram-me por ocaso. Fui eleito naquele velho sistema das atas falsas, os defuntos votando, e fiquei 27 meses na prefeitura”.  
Sintam a gravidade do que esse homem público disse e verifiquem quantos crimes foram cometidos (inclusive assassinato e eleições fraudulentas). 
Existem irregularidades mais atuais do que estas? Foram ditas recentemente por um político atual? 
Não, estas palavras foram ditas pelo grande escritor alagoano Graciliano Ramos (27/101892–20/03/1953), que foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL), de 1928 a 1930, quando renunciou. 
Bertolt Brecht, pensador alemão
Infelizmente, política é uma ciência praticada por falhos humanos e os homens têm a capacidade de violentar, desvirtuar, conspurcar e anarquizar as leis que regem a ética, a moral e a honra. 
Nós, os brasileiros, estamos diante de um grande impasse político: não sabemos mais em quem votar. 
Já elegemos pessoas cultas que lesaram o erário, votamos num iletrado que está respondendo inquéritos judiciais por, entre outras coisas, malversação. 
Já votamos num índio, já elegemos um palhaço e nada mudou. E agora, José? 
“O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas”, disse Bertolt Brecht (1898 – 1956), dramaturgo, poeta e pensador alemão. 
Apesar de todas as aberrações políticas que o povo brasileiro já colocou no poder (em todas as esferas), jamais poderemos nos omitir e, desistindo, tornarmo-nos analfabetos políticos. Vamos continuar insistindo, utilizando-nos da única arma que a democracia nos concede: o voto! 
Ou será que todas essas diarreias mentais que nós já elegemos não são resultados do nosso crônico analfabetismo político?

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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