Ciduca Barros
Eu tomei posse no Banco do Brasil numa cidade que ficou para sempre na minha lembrança: Currais Novos, no sertão do Rio Grande do Norte.
Ali me casei, ali nasceram as minhas filhas e ali morei durante 10 longos e felizes anos.
Naquela cidade fiz muitas amizades, dentro e fora do Banco, que permanecem até hoje, já decorridos mais de 50 anos. Entre todas as cidades onde, posteriormente, a serviço do Banco, eu trabalhei e residi (foram oito, de dois estados da Federação) em nenhuma delas eu encontrei tantas pessoas interessantes e engraçadas, como as que me foram apresentadas lá em Currais Novos.
Naquela cidade, há uma família constituída de homens honestos, inteligentes, capazes e excelentes mecânicos.
Realmente, a família Batista é diferenciada das demais do nosso imenso Seridó.
Eu tive a honra de conhecer (e ser amigo) de vários de seus membros. Eu tinha um dileto amigo da família Batista que, infelizmente, Deus já convocou e que, além de excelente mecânico, era também um músico de mão-cheia.
Ele tocava qualquer instrumento musical que se colocasse em suas mãos. Os Batistas têm também outra característica que os une: todos são bons de copo. Eles bebem pra valer.
Na década de 1970, aconteceu naquela cidade uma grande e lamentável tragédia que a mídia nacional veiculou em todo o Brasil.
Numa fatídica noite de 13 de maio, um ônibus desgovernado atropelou uma procissão religiosa, levando à morte dezenas de pessoas e ferindo inúmeras outras.
Foi um acontecimento calamitoso que, passados mais de 30 anos, ainda repercute negativamente na memória daquele honrado povo.
E onde entra a família Batista nisso? O que tem de engraçado num desastre? Logicamente, com uma tragédia dessa proporção, os currais-novenses que, na época, moravam fora, ficaram apreensivos e nervosos.
Muitos deles ansiosos para saber se, entre as vítimas, haveria algum parente ou amigo querido.
Então, um jovem da família Batista, que morava em São Paulo, vendo e ouvindo a terrível notícia do desastre em sua cidade, imediatamente ligou para o seu tio, lá em Currais Novos.
– Tio João, por amor de Deus! Que tragédia foi essa, homem?
– Uma verdadeira catástrofe, meu filho! Morreu muita gente e várias pessoas feridas foram transferidas para os hospitais de Natal – disse pesaroso o velho João Batista.
E o jovem Batista, preocupado em saber se entre as vítimas haveria algum parente deles, perguntou:
– E tem algum parente nosso que foi vítima nesse desastre, meu tio?
Nesse momento, apesar da tristeza com aquela catástrofe recente, aflorou o bom humor do velho João Batista.
– Meu filho! O ônibus atropelou uma procissão, não foi um bar não!
Nenhum comentário:
Postar um comentário