Ciduca Barros
Não podemos desperdiçar, sem dividir com os demais, as nossas boas e inesquecíveis lembranças. De repente, uma velha palavra, que me trouxe velhas recordações, surgiu em minha mente: retreta.
Para os mais jovens, eu transcrevo o que diz o Dicionário Aurélio sobre retreta: “concerto popular de uma banda em praça pública”. Ou seja, uma banda de música (na nossa terrinha, carinhosamente chamada de Furiosa ou Quebra-Resguardo) tocando animadamente belas marchas e aqueles velhos dobrados. E não podemos falar em retreta sem se lembrar de coreto. Coreto?
Novamente, para os mais jovens, informo o que também diz o Aurélio: “espécie de quiosque construído ao ar livre, para concertos musicais”. Então, é exatamente no coreto onde podemos ouvir uma retreta. Falar em retreta e coreto sem falar em praças? Falar em praças sem se lembrar da nossa amada Praça da Liberdade, de Caicó, no Seridó Potiguar? Jamais!
Para várias gerações de caicoenses, ela é a praça de maior simbolismo na vida de cada um. Chamava-se Praça da Liberdade, hoje Praça Dinarte de Medeiros Mariz, mas, para todos nós, simplesmente era "A Pracinha" ou "A Pracinha do Coreto”. Para mim, ela deveria se chamar “Praça dos Amores”, “Praça dos Apaixonados” ou “Praça dos Namorados”, pois foi justamente lá onde começaram (e terminaram) inúmeros romances.
Naquela pracinha ficava o nosso cinema, o Cine Pax, onde assistimos a vários clássicos (A um passo da eternidade, Volta ao mundo em 80 dias, Sindicato de ladrões, Rio lobo, O homem que sabia demais e Psicose) e vibramos com os astros e estrelas que povoaram a nossa juventude (David Niven, Cary Grant, Deborah Kerr, Marlon Brando, Lex Barker e a linda Elizabeth Taylor), bem como era intenso o fluxo de jovens, tendo em vista a proximidade da pracinha com a Praça da Matriz (onde se realiza a tradicional e ruidosa Festa de Santana).
Naquela praça nós paqueramos (flertamos, lembram-se?), namoramos, sonhamos, brigamos, rimos, choramos, ficamos eufóricos e tristes. Os seus bancos foram testemunhas de grandes idílios. Os seus bancos ouviram lamentos e queixas, mas, por outro lado, também ouviram muitas declarações de amor de casais que ainda hoje estão juntos, de cabelos encanecidos, com filhos e cheios de netos.
Naquela praça havia uma convenção que, acredito eu, não existir em lugar nenhum do mundo. Para que pudessem se encarar (e naturalmente paquerar), as moças (que à época andavam de braços dados) "rodavam" no sentido horário e os rapazes ao contrário (no sentido anti-horário). Assim, convenientemente, estavam sempre olhando nos olhos daqueles(as) de sua preferência.
Na Pracinha nasceram amores que se julgavam eternos.
E muitos deles se tornaram.
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