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terça-feira, 23 de março de 2021

O dilema de Rita Parrecão

 DIRETO DO JORNAL DA BESTA FUBANA

Mãe Oxum, a protetora do pau mole

Cícero Tavares

Rita Parrecão era uma morena exuberante, monumental. Um metro e oitenta centímetros de pura beleza tropical, olhos da cor do mar, coxas grossas e bem delineadas, joelhos torneados, cintura de pilão, cabelos pretos, cacheados, batendo na cintura. Mas apesar de todos esses atributos femininos naturais que chamavam a atenção de todos que a viam, ela era cismada com qualquer bicho fêmeo que tentasse se aproximar do marido para quaisquer conversês.

Certo dia pôs na cabeça que Adamastor da Silva, seu marido, comerciante de Secos e Molhados bem sucedido no bairro, estava fofando a empregada Tonha de Zefa, matutinha assanhada que ela mesma teria trazido do interior para ajudá-la nos afazeres caseiros e cuidar das três filhas menores.

Para provar o improvável, o que só existia na sua imaginação, Rita Parrecão armou várias arapucas para ver se pegava o marido traçando a empregada dentro ou fora de casa. Mas não conseguia porque tudo não passava de coisas de sua cabeça, idealização à traição.

Insatisfeita por não obter resultados positivos de suas desconfianças delirantes, Rita Parrecão disse ao marido que precisava visitar a família no interior, pois a mãe estava doente, mas sua pretensão era consultar Mãe de Oxum, a mais famosa macumbeira da região, especialista em descobrir traição de maridos infiéis que andavam mijando fora da bacia.

Consulta feita, preço combinado. Detalhes da execução do “serviço” foram acertados verbalmente entre a contratante e a contratada. De cara, Mãe de Oxum exigiu três galinhas pretas, três caixas de charuto vendido no armazém de Seu Mané Rolim. No mesmo dia, depois de participar da primeira sessão de descarrego, Rita Parrecão volta para casa satisfeita com o resultado dos primeiros ensaios, com todos os caboclos recriminando “os atos do marido”…

À noite, antes de deitar-se, ela entra em transe, dá umas sacudidelas no corpo incorporado por uma entidade recomendada por Mãe de Oxum e tibunga debaixo do lençol nua, onde já encontra o marido, deitado e, para sua surpresa, roncando feito um porco, fato esse nunca lhe acontecido antes.

Mais seca do que o mês de janeiro em Pico para as camaradagens com o marido, ela começa a passar a mão nos trololós dele, que não se intumescem nem a pau. Dormindo estava dormindo ficou, e ela na maior frustração.

Passou a noite nessa agonia e no outro dia, quando se levantou, fez o café de Adamastor da Silva, serviu-o e, curiosa porque o maridão não a procurou para dá uma, perguntou-o:

– Meu filho, você ontem não me procurou. Foi dormir tão cedo. Que sono foi aquele que deu em você?

– Minha filha, eu não sei por quê, mas de ontem para cá eu estou sentindo uma coisa estranha na minha tesão. Eu estou sentindo que estou perdendo a potencia sexual por você. Até o pau encolheu como você pode ver aqui – e arriou o zíper mostrando a mulher o desmantelo.

Quando viu a cena do feitiço inverso, o pingolim do marido lânguido, desiludido, Rita Parrecão endoidou. Inventou uma nova viaje ao interior para procurar a mãe de santo e desfazer a mandinga. Ao chegar no interior, aflita, procurou Mãe Oxum, que para sua desdita tinha tido um infarto fulminante na noite anterior e batera as botas. O corpo estava sendo velado.

Como a mãe de santo pregou um nó que só ela mesma poderia desatar, o que aconteceu com várias mulheres da região que, naquele instante chegavam contando o mesmo dilema, o consolo de Rita Parreção foi o de ter de conviver com o badalo do marido murcho e ficar na espreita para um dia o pau ressuscitar.

Desse dia em diante Rita Parrecão aprendeu uma lição por ter ficado sem o pau ardente do marido toda noite, a não ser apelando à cabocla Jurema, milagreira do pau mole, a ressurreição do “bicho”: quem não pode com a mandinga não carrega o patuá.



6 comentários:

  1. Meus caros:

    Fico feliz que só a peste ao ver uma matéria publicada no Jornal da Besta Fubana ser reproduzida no Bar de Ferreirinha.

    Mas peço que corrijam uma grande omissão: coloquem o nome do autor do texto, por favor.

    Trata-se do nosso talentoso colaborador Cícero Tavares, que assina no JBF a coluna intitulada CRÔNICA E COMENTÁRIOS.

    E saibam que um privilégio de ter um parceiro do quilate deste Bar!!!

    Abraços e mais sucesso ainda.

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    1. A sua bênção, Papa Berto I e Único!

      Além do amolecimento de algumas partes do corpo, o caba quando passa dos 60 anos tem também como efeito colateral um esquecimento fela da puta.

      Obrigado pelo toque.

      Correção feita!

      A alegria de ser comparsa deste Jornal da Besta Fubana é nossa.

      Forte abraço.

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    2. Amolecimento de certas partes do corpo é duro...

      É lamentável, lastimável, brochável...

      Gratíssimo pela atenção e pela rapidez do retorno.

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  2. Meu parceiro e amigo Ciço, joga em todas as frentes no astral e algumas vezes se arrisca a apelar para o 'POVÃO' LÁ DE CIMA E ALGUMAS VEZES AO LÁ DE BAIXO.




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  3. o IMPORTANTE É TER FÉ, INSPIRAÇÃO, CONFIANÇA NO " BABALU "

    E ABRIR OS BOLSOS, POIS TUDO SE CONSEGUE COM BOA VONTADE E
    INSPIRAÇÃO. é CLARO, é necessário algum dim dim para as
    despesas e também para molhar a gargantam pois nenhum " santo " é de ferro.
    E como tados sabemos, tudo na vida é pago, de uma forma ou de outra. Precisamos acordar : Não existe almoço gratis.

    Ciço, conta outra que você é o Rei dos Causus.

    Abraços, parceiro escrivinhador.

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