Nosso último encontro, dia 15 de novembro de 2020, em sua casa, Caicó |
Roberto Fontes, jornalista e ex-aluno
O meu primeiro encontro com o monsenhor Ausônio Tércio de Araújo ocorreu em 1972 - ao lado de dezenas de outros adolescentes. Estávamos começando o que na época se chamava o curso ginasial, e inaugurando uma experiência pioneira em Caicó, que era a reforma do ensino instituída pela Lei 5.692.
No meu caso particular, ingressei na Escola Estadual Monsenhor Walfredo Gurgel por opção. Eu havia sido aprovado com uma nota excepcional, que me deixou entre os primeiros, no temível exame de admissão para o Ginásio Estadual Joaquim Apolinar, que era uma excelente referência de ensino na época.
Como cobaia, fui experimentar um jeito novo de estudar. Além das matérias características do ensino médio na época – português, matemática, história e geografia – havia também técnicas agrícolas, comerciais, industriais, entre outras. Tudo na estrutura do Colégio Diocesano Seridoense, com seus laboratórios e outros espaços.
Foi neste ambiente, reverenciado e guardado com zelo e dedicação, que fiz os primeiros contatos com padre Tércio. E passei a admirá-lo e respeitá-lo como homem, religioso, educador, pensador, humanista e um segundo pai. Ele nos chamava de filhos. E como um pai zeloso, fez o melhor que pôde para encaminhar sua prole a uma vida digna, pautada por valores éticos e morais.
Padre Tércio era um pai amoroso e muito vigilante. Exigia resultados enrolando os cabelos com o dedo indicador e exibindo um sorriso sarcástico de dentes perfeitos. Era impaciente e irônico com quem fazia argumentações toscas, mas atiçava e estimulava aqueles adolescentes a ir à luta, pra que pudessem fazer o próprio destino através da educação. "Sem estudar, ninguém vence na vida", dizia.
Em Caicó, há traços do seu trabalho como educador e homem de Deus em praticamente todas as instâncias. As homenagens que lhe forem prestadas hoje e sempre serão poucas para o muito que ele fez em todas as áreas, da educação à religião.
Por seu exemplo, por suas recomendações, estudei e venci. Neste sábado melancólico, 9 de janeiro de 2021, quando a morte me deixa órfão do seu convívio, só resta agradecer a ele por tudo. Foi um privilégio tê-lo como farol: a sua pluralidade, diversidade, esperança e a infinita capacidade de recomeçar me levou a um porto seguro.
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