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domingo, 5 de julho de 2020

O carinho com os aprendizes do BB

Ciduca Barros

O código que regia a disciplina do Banco do Brasil (CIC - Codificação de Instruções Circulares) era muito rígido.
Sempre o respeitamos, mas ele nunca foi óbice a nossa maneira descontraída e alegre de trabalhar. 
Nem o sistema hierárquico no estilo militar que o Banco adota nos impedia de provocar gozações, mesmo durante o expediente interno.  
Na relação com os chefes e gerentes, vigorava o respeito e o acatamento. 
Entretanto, lá fora, principalmente no chope da AABB, éramos todos iguais. 
Nós tínhamos intimidades, mas com muita responsabilidade.
Na década de 1960, o quadro funcional da agência de Caicó, Rio Grande do Norte, era constituído, na sua maioria, de funcionários antigos. 
Certo dia, a agência empossou o seu primeiro Menor Estagiário, logicamente uma pessoa jovem e inexperiente, que foi recebido por todos com o nosso reconhecido respeito.
Por ser o mais jovem, sempre que acionado, era solicitado de maneira carinhosa:
– Filho, leve esses papéis para a gerência!
– Filho, retire essas fichas!
– Obrigado, Filho!
– Filho...
Passados os dias, o jovem funcionário, extasiado com tanto desvelo, resolveu se abrir para um dos antigos:
– Seu Barrinhos, eu estou muito satisfeito com a meiguice do tratamento de vocês.
– Por quê, Filho?
– Todos são educados! Só me tratam por “Filho”. 
– É verdade. Gostamos muito de você que é um garoto respeitoso, que se esforça em aprender logo os serviços e que já demonstrou ser de boa índole. Mas, não se iluda, o “Filho” é uma abreviatura.
– Abreviatura? De quê? 
Sebastião Barros Sobrinho, de reconhecida irreverência, explicou:
– De filho da puta, Filho!

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

NOTA DOS EDITORES


Este texto relatando o carinho dos veteranos do BB com os aprendizes foi publicado no dia 16 de dezembro de 2018.
Está sendo republicado hoje, combinado com o autor Ciduca Barros.
Ele e a esposa Aparecida estão internados na Casa de Saúde São Lucas, em Natal, lutando contra a Covid-19.
Quinta-feira passada, pelo WhatsApp, Ciduca gentilmente avisou da impossibilidade de escrever um texto inédito para hoje - por motivos óbvios!
Ficamos apreensivos, nós editores e leitores! 
Caro Ciduca: estamos em oração pela total recuperação do casal, torcendo para que o mais breve possível você e sua esposa possam retornar pra casa, sãos e salvos!
E aqui no Bar de Ferreirinha também aguardamos o seu retorno com textos inéditos que fazem a alegria dominical dos nossos milhares de bêbados espalhados pelo Brasil e pelo mundo, a partir de Caicó.
Saúde, saúde e muita saúde, caro amigo!
Sant'Ana proteja você e sua esposa.
Um forte abraço!

Roberto e Pituleira
Editores

Um comentário:

  1. Caríssimo Ciduca Barros e esposa Aparecida:

    Sou escrevinhador do Jornal da Besta Fubana, onde possuo uma coluna "Crônicas e Comentários," patrocinada pelo nobre editor Luiz Berto, o gordinho mais simático do mundo, na certeira opinião de todos nós e do jornalista José Nêumanne Pinto!

    Estou suplicando à Natureza que o faça retornar em breve a esse espaço nobre-fuleiragem com suas crônicas supimpas, o retrato do cotidiano. Você e sua nobre Aparecida. Seu retorno curado é a nossa alegria!!!

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