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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Moro é inocente, Lula não

Ivar Hartmann

Como antigo juiz e promotor da área criminal, não entendi onde estava o delito das mensagens trocadas entre o juiz Moro e o promotor Dallagnol na Lava Jato. Eram iguais as conversas que mantive com meus colegas nos fóruns por onde passei. O leitor deve lembrar: juiz e promotor, via de regra, são pessoas trabalhando em uma comarca que não é sua terra natal. Chega sem amigos e parentes e ainda recomendado pelas chefias para ser cauteloso com as próximas amizades. É um homem só que, naturalmente, buscará em seu ambiente forense seus iguais, juízes e promotores, para conversar e discutir processos. Sempre foi assim e sempre será. Dirá o leitor intrigado: mas porque não vai discutir os processos também com os advogados? Pela mais simples das razões: quem paga os juízes e promotores é o Governo, obrigando-os a serem imparciais e trabalharem de acordo com a prova. Para um juiz ou promotor, culpado é culpado, inocente é inocente. Os advogados ao contrário, trabalham para achar as provas que façam de seu cliente sempre um inocente.
O advogado, mediante pagamento, é contratado para defender uma pessoa denunciada pela sociedade, através das provas, como bandida. O advogado só busca as provas a favor. Na Lava Jato tão reais quanto a neve no Saara. Um promotor que denunciar um inocente ou um juiz que condenar um inocente está indo contra princípios elementares de seus cargos. E suas consciências. Então Moro e Dallagnol conversavam apenas entre si e seus colegas; estavam de um lado da trincheira. Os advogados dos bandidos da Lava Jato estavam e estão do outro. Nestes dias, Moro e Dallagnol foram inocentados oficialmente do teor destas conversas: nenhuma tinha nada de errado. Lula, ao contrario, foi de novo condenado.

ivar4hartmann@gmail.com

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