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domingo, 29 de dezembro de 2019

Num comício no interior


Ciduca Barros

Estamos cansados de escutar que o progresso de uma nação depende, indubitavelmente, da educação do seu povo. 
Aqueles que concordam com essa afirmativa citam, como exemplo irrefutável, o nosso amado Brasil. 
Alguns ainda reforçam fazendo uma indagação: “como um país de gente iletrada como o nosso poderá sair do atraso em que vivemos?”.
E quando os analfabetos são os próprios governantes que nós elegemos? - pergunto eu. 
Um povo que não sabe ler, de quando em quando, também elege mais um analfabeto. 
Quem elege um iletrado parece que está dizendo: “pronto! Você que também não sabe ler, vá nos representar e pode fazer merda”. 
O que faltava de educação formal naquele prefeito municipal do passado, sobrava em “grossura”. 
O sujeito acumulava as funções de prefeito, grosseria e ignorância.
Certa ocasião, época de campanha política, num grande e concorrido comício numa praça pública lá da sua cidade, com a presença régia de um Senador da República, nosso personagem, num dos seus lendários discursos, começou a elogiar o senador: 
– Nosso senador é um homem competente!
– Nosso senador é um político honesto!
E agarrando o braço do senador, mandou mais esta:
– Este homem é fabuloso e merece nossos maiores elogios!
Um cara que se encontrava bem em frente ao palanque, possivelmente um desafeto político, aproveitando uma pausa nos seus louvores ao “hómi”, com as mãos em concha, gritou:
– Dê o cu a ele!
Pensem no silêncio que reinou naquele ambiente. 
O ilustre (e ignorante prefeito) sentiu tanta raiva que mudou de cor. 
E ainda segurando no braço do respeitável senador pelo Estado do Rio Grande do Norte, resolveu retrucar aquela desrespeitosa provocação:
– Eu exijo mais respeito, seu fela da puta. Eu sou um homem casado e pai de filhos. Eu sou macho!
E terminou fazendo um convite ao ofensor:
– Você quer uma prova do que eu estou dizendo? Suba aqui que eu como o seu cu e o do senador!

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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