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terça-feira, 4 de junho de 2019

Cores de parto

Mia Couto

O que eu vi,

à nascença, foi o céu.

No rasgão da retina,

a desatada luz: o meu segundo oceano.

Aprendi a ser cego

antes de, em linha e cor,

o mundo se revelar.

O que depois vi,

ainda sem saber que via,

foram as mãos.

Parteiros gestos

me ensinaram quanto,

das mãos,

a vida inteira vamos nascendo.

As mãos foram, assim,

o meu segundo ventre.

Luz e mãos

moldaram a impossível fronteira

entre oceano e ventre.

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