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quarta-feira, 26 de junho de 2019

Diarreias mentais - CLIII


O desquite

Com objetivo de apenas lembrar, informo que o Desquite foi substituído pela Separação Judicial, através da Lei 6.515/1977 (Lei do Divórcio). Desquite era uma forma de separação do casal e de seus respectivos bens materiais, sem romper o vínculo conjugal, o que impedia novos casamentos.
O termo Desquite faz lembrar o rompimento conjugal do passado, época em que o casamento era perpétuo e indissolúvel.
Esta história é tão antiga que ainda é do tempo de Desquite, ou seja, data de antes de 1977, ano em que foi abolido.
Aquele advogado vinha atravessando uma fase financeiramente difícil. Poucos clientes e, consequentemente, poucas causas que refletiam, negativamente, em sua conta bancária.
Ele era dado a fazer versos e, com poucas audiências para participar, matava seu ocioso tempo fazendo poesias.
Até que, uma ensolarada manhã, entrou um casal em seu escritório buscando os seus préstimos profissionais. Ele, naturalmente, já ficou alegre, sentindo que iria entrar alguns trocados em seu combalido caixa. 
Depois das devidas apresentações, o causídico perguntou:
– Qual é o problema de vocês?
– Queremos nos desquitar, doutor! – foi a resposta uníssona do casal. 
Já com a sua máquina de datilografia (Olivetti?) aberta e pensando nos altos valores, disse:
–  Então, vamos fazer a relação dos bens do casal!
Tomou um fôlego e continuou:
– O que vocês possuem? Casas, fazendas, gado, me informe todos o patrimônio do casal.
– Eu não possuo nada! – disse a mulher.
– Eu também não tenho porra nenhuma! – disse o cidadão.
Pensem na frustração do advogado. Intimamente, ficou decepcionado e pensou com os seus botões: 
“Eu tô fudido e ainda me aparece um casal mais fudido do que eu, sem bens e querendo um desquite! Que porra!”
Daí, se recompôs, ajeitou a gravata, e acionando a sua veia poética decretou para o casal, em voz clara e alta:

“Esta é uma questão muito tola
Aqui mesmo eu lhes desquito
Você fica com a sua rola
E ela fica com o seu priquito”.

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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