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terça-feira, 25 de junho de 2019

Sonho de amor

ANDERSON BRAGA

Era um sonho de amor… Em misteriosa vinha,
um místico perfume embebedava a mente.
E de uma flor tão bela esse perfume vinha
que enchia de ilusões o coração da gente.
Ver a flor não bastava; e eu quis tocar-lhe a vida.
Mas, de tão frágil que era, e fina e delicada,
eu temi machucar-lhe a haste verde e pendida
e receei manchar-lhe a pétala rosada.
Pareciam abrir-se as sépalas num beijo.
Uma gota de orvalho a brilhar docemente
—um cristal num rubi— ateava-me o desejo.
Mas eu, renunciando à glória de possuí-la,
fugi. Doido que fui! pois logo a madrugada
matou-a para sempre, impiedosa e tranqüila.


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