Páginas

domingo, 11 de novembro de 2018

O pinto escarlate


Ciduca Barros

Ninguém pode negar o inestimável benefício que a criação do citrato de sildenafila trouxe para os flácidos e cansados membros masculinos. 
Respeitada a sagrada ressurreição do Nazareno, há mais de 2 mil anos, foi o maior “renascimento” coletivo já ocorrido na face da terra. 
Mas também é inegável que o Viagra e seus assemelhados deram origem a muitas histórias hilariantes. 
Aqui está uma delas.
Aqueles dois já estavam casados há 55 anos. 
Daí, seria desnecessário dizermos a idade que ambos já tinham e, logicamente, dispensarmos a dedução de que a vida sexual daquele casal já havia “fechado para balanço”. 
Com seus filhos criados, casados e independentes financeiramente, nossos personagens viviam de frequentar a sua igreja e de “curtir” os netos. 
Esse é o ideal de final de vida da maioria dos casais, concordam? Eu também concordo.
Certo dia, de tanto ouvir os amigos da sua cansada e broxada geração falarem dos “milagres” do citrato de sildenafila, ele chegou em casa com uma caixa de Viagra no bolso e um “pensamento de jegue” na cabeça. 
Com muito tato, “cantou” a sua venerável (e veterana) esposa e combinaram uma grande “farra sexual” (como nos velhos e quase esquecidos tempos).


Eles criaram o ambiente propício para o grande momento que, segundo o próprio, seria bem melhor do que na lua de mel ocorrida há mais de meio século.  
Muito ansioso, ele tomou o azulzinho. 
Mais ansiosa ainda, ela vestiu uma camisola velha e desbotada, mas ainda sexy. 
Chegado o momento, ela languidamente deitada na cama esperava que ele saísse do banheiro. 
E ele saiu. 
E ela gritou. 
Não foi um grito de prazer. 
Foi um terrível e pavoroso grito de susto. 
O que acontecera, meu Deus?
O Viagra causou o efeito desejado, mas o membro reprodutor do velho estava assustadoramente grande, com um diâmetro enorme e excessivamente rubro. 
O enferrujado pênis estava intumescido e incandescente, lembrando a cor vermelha dos semáforos. 
Tradução: o órgão reprodutor do velhinho, que no passado também serviu para copulação, estava inchado e “em brasa”. 
Final da pretendida noitada de sexo selvagem: ele com o pinto ereto, mas enfiado num balde de gelo, e ela, nervosa e frustrada, ligando para o 192 (SAMU).

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

Um comentário: