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domingo, 1 de julho de 2018

Culinária seridoense


Ciduca Barros

É indiscutível que a nossa terra tem uma culinária específica e considerada engordietqueijo de coalho e de manteiga, linguiça do sertão, alfenim, manteiga líquida (de garrafa), feijão com toucinho, carne de sol com gordura, buchada, panelada, chouriço, sequilho e mais uma quantidade de alimentos altamente calóricos que só fazem aumentar a nossa taxa de colesterol e gerar hiperglicemia. 
No entanto, é desnecessário reafirmar o excelente sabor de nossa alimentação e dizer, mais uma vez, que somos orgulhosos de nossas iguarias.
E como nós temos histórias a respeito de tudo no Seridó, temos também duas histórias sobre a sua alimentação, uma delas já contada em livro, mas que reconto aqui:

Ele era um velho e tradicional homem do campo. 
Um sertanejo curtido do sol, daqueles arraigados nos confins do Seridó. 
E alucinado por panelada. (₁)
Num humilde restaurante, lá da sua terrinha, ele já estava devorando o terceiro prato daquela iguaria, quando a dona da birosca, admirada com tanta avidez, lhe perguntou:
– Seu Pedro, o senhor gosta muito de comer panelada, né?
O velho Pedro Marreta, ainda com a boca cheia de comida e com a farinha manchando o seu vasto bigode, respondeu:
– Dona Maria, eu gosto mesmo é de cumê muié!
E arrematou. 
– Se eu pudesse só me apeava de riba de uma muié, pra cumê uma panelada!
Panelada era a sua segunda preferência.

Buchada, prato típico do sertão do Seridó
A segunda história, inédita, vem lá da cidade de Parelhas, também no nosso Seridó Potiguar. 
O cara entrou num barzinho da cidade e pediu uma meiota de cachaça. 
O dono do bar o atendeu e ele lhe perguntou:
– Que tira-gosto você tem?
– Tenho buchada. (₂)
– Traga-me uma. 
Tanto panelada quanto buchada, por serem comidas feitas com vísceras de animais, precisam de uma limpeza especial para evitar a exalação de odores fétidos. 
E quando o dono do bar trouxe a buchada, o cliente verificou logo que aquela não tinha sido bem lavada, mas ficou na dele.  
Quando terminou, gritou para o dono do bar:
– Ô Severino! Traga a minha conta. 
O dono do estabelecimento, que estava atrás do balcão atendendo outro cliente, perguntou de volta:
– O que foi que você consumiu?
– Uma meiota de cachaça e um dindim (3) de bosta – foi a resposta, também gritada.
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(1) Panelada é uma comida genuinamente da culinária do Norte e do Nordeste do Brasil, feita das vísceras de boi, carneiro ou bode, cuidadosamente preparada (às vezes).
(2) Buchada também é um prato regional feito com as vísceras cortadas em pequenos pedaços e cozidas dentro do bucho de bode, carneiro ou boi. 
(3) Dindim é suco vendido em saquinho plástico.

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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