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domingo, 22 de abril de 2018

Numa bodega do Seridó

Ciduca Barros

Você se lembra da história do bodegueiro relatada no meu livro “SERIDÓ – UMA NAÇÃO DIVERTIDA” (cap. 20, O Bodegueiro Cachaceiro, págs. 91/92)? 
Ele era conhecido como Jacinto Grande, o homem que bebia demais e que, depois de embriagado, não conseguia atender a clientela. 
Transcrevo parte do diálogo contido na história:
– Seu Jacinto, tem feijão?
– Na minha bodega eu tenho tudo! Só não tem quem despache – era a sua resposta com a voz pastosa e arrastada de bêbado e sem poder se levantar. 
No pé do balcão do seu estabelecimento comercial, o sujeito também podia tomar “umas e outras”, logicamente tendo ele como companheiro de copo (se ele ainda tivesse sóbrio, é claro).

Numa ocasião, entrou lá um conhecido papudinho e pediu uma lapada de cachaça. 
Seu Jacinto, que ainda não tinha tomado a primeira da manhã, com aquela mão tremida de todo bebum em fim de carreira, serviu o freguês derramando mais aguardente no balcão do que no copo, e recebeu uma reclamação.
– Seu Jacinto! Você despeja mais aguardente em cima do balcão do que dentro do copo!
O bodegueiro cachaceiro, que também era desaforado, mandou de volta:
– Então beba o derramado no balcão que eu cobro o mesmo preço.
Na sua cidade havia um doidinho (qual a cidade do interior que não tem o seu?), conhecido como Mané Pão, manso e muito querido, que ia sempre à bodega de seu Jacinto à procura de fazer algum biscate. 
Uma tarde, Mané estava na bodega quando seu Jacinto precisou ir ao sanitário e falou para ele:
– Mané! Se chegar algum freguês mande aguardar e avise que eu fui ao banheiro. 
Não deu outra. 
D. Maroquinha, a beata da cidade, entrou na bodega e perguntou a Mané:
– Cadê seu Jacinto?
Mané Pão, comprovando que era bom de recado, mandou:
– Ele foi cagar, D. Maroquinha! Mas eu acho que ele não vai demorar não, pois ele já saiu daqui peidando.

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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