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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Diarreias mentais - LXXXIV


Um cabaré à moda antiga

Na semana anterior, eu disse aqui que, no Brasil, os fatos desagradáveis são recorrentes, para não dizer perenes. 
Se tivermos o trabalho de proceder a uma mínima pesquisa, veremos, facilmente, que as reclamações do povo brasileiro se perpetuam através dos tempos.
Lemos e ouvimos, a todo instante, a insatisfação das pessoas com o Poder Judiciário.  
Uns acham que a Justiça Brasileira condena pouco. 
Outros dizem que a Justiça Brasileira solta demais. 
Ou seja, todos procuram uma maneira de malhar, justa ou injustamente, o nosso Judiciário.
Isso é novidade? Não! 
Esta insatisfação, com um misto de dúvidas quanto à moralidade de quem julga, vem de décadas.
Vocês querem uma prova do que afirmo? Essa historinha ocorrida durante o Estado Novo, na época dos Interventores Federais nos estados brasileiros (1937 – 1945), será o meu testemunho.
Sinfrônio Braga, chefe político do município de Saboeiro, no Ceará, político experiente e matreiro, sabia da corrupção eleitoral que reinava no Tribunal do seu estado. 
Segundo ele, ali havia anarquia e venalidade, votos vendidos, urnas desaparecidas e outras coisitas mais. 
Numa eleição municipal daquela época, Sinfrônio Braga era candidato a Prefeito Municipal de Saboeiro e era muito perseguido pelos interventores. 
Quando da apuração dos votos, o juiz viu certa “irregularidade” e impugnou uma determinada urna.  
Sinfrônio foi pedir esclarecimentos à autoridade judiciária e recebeu a seguinte explicação: 
– Olha, seu Sinfrônio! Vou pegar a urna impugnada e vou mandar para o Tribunal, em Fortaleza!  
O velho Sinfrônio, ressabiado e sem papas na língua, mandou de volta: 
– Dr. Rolim! O Tribunal de Fortaleza, para um cabaré, só falta o saxofone!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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