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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Diarreias mentais - LXXXV


Cercas de pedra

A velha e tradicional cerca de pedra traz, para todos nós que fomos garotos lá do Seridó, saudosas e doces lembranças.
Qual moleque da nossa geração que, passarinhando (o que hoje é ecologicamente incorreto), não pulou cercas de pedra com uma gaiola nas mãos e a baladeira no pescoço? 
Quantos de nós, moleques do Seridó, armados com uma espingarda calibre 36, não caçou preás e mocós (também ecologicamente incorreto) entre as pedras daquelas cercas?
Quantas cobras (venenosas ou não) nós moleques do Seridó vimos entre estas pedras? 
Quantas vezes, os moleques do Seridó de outrora, pularam cercas de pedra para "roubar" (legalmente errado) frutas nos sítios de terceiros? 
Historicamente, as cercas de pedra do Seridó têm um valor inestimável. 
Primeiramente, são uma herança dos primitivos moradores – portugueses que receberam da Coroa Portuguesa as também históricas e enormes sesmarias. 
Ademais, as cercas também eram construídas com pedras (abundantes na região até os dias de hoje) pela dificuldade (e o alto custo) que havia antigamente na aquisição de arame farpado, além da sua durabilidade, é claro, pois muitas delas já têm mais de um século. 
Precisamos ressaltar que as "cercas de pedra" não são uma criação seridoense, pois existem também na velha Europa (mormente na Escócia). 
Por fim, estou pensando, seriamente, em pedir aos meus familiares que, após o meu falecimento, meu corpo seja cremado e minhas cinzas jogadas numa cerca de pedras, lá no nosso velho Seridó. 
Não seria um grande reencontro? 
Eu, os preás e os mocós!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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