Ciduca Barros
Eu já escrevi em textos anteriores que o povo do Seridó é engraçado até diante da inexorável morte.
Aqui está uma prova do que venho afirmando.
Aquele respeitável cidadão lá do Seridó, após enfrentar uma letal e demorada doença, estava às portas da morte.
Com tristeza, sua família sabia que o seu perecimento estava próximo.
Naquela época, como ainda não existiam os centros de velório, os defuntos eram velados em suas residências e as famílias seridoenses, que sempre gostaram de mesas fartas, tinham como hábito preparar uma boa refeição para as pessoas presentes ao velório.
Sem fugir da tradição, a esposa do agonizante resolveu acionar a cozinheira na preparação da comida, inclusive de um aromático bolo.
O agradável cheiro daquele bolo exalou na casa inteira e chegou na camarinha onde o velho se ultimava.
Com o aroma agradável vindo da cozinha, o moribundo (que adorava aquela iguaria) foi buscar um resto de vida lá no seu íntimo, abriu os olhos, com uma voz muito fraca, chamou a esposa e lhe pediu:
– Clotilde! Eu quero um pedaço desse bolo! Tá tão cheiroso!
A velha, sem pestanejar nem observar no pouco de alento que voltara ao agonizante, mandou de volta:
– Dou não!
E decretou:
– O bolo é para as pessoas que vêm ao seu velório!
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