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domingo, 18 de outubro de 2020

Velhos costumes do meu sertão


O livro “Velhos costumes do meu sertão”, escrito por Juvenal Lamartine de Faria, é uma referência para todos que gostam dos temas relacionados à vida sertaneja do passado. Dentre outros assuntos, Juvenal menciona um velho costume de assistência aos católicos chamado “desobriga”. Em síntese, era a visita dos vigários a recantos mais distantes da sede da freguesia.

Como escreveu o próprio Juvenal: “era um dia de festa para aqueles mundos. Além de batizar os pagãos e casar os noivos e amancebados – assistia a todos, do sinhô ao escravo, não só no confessionário, como de conselhos e ensinamentos vários que, mais das vezes, envolviam dúvidas do espírito, do corpo e do trabalho. (...) Alguns exerciam por tão longos anos o seu nobre mister de pastor da mesma freguesia, que passavam a ser conhecidos por todos, indistintamente, ricos e pobres, homens e mulheres, brancos e pretos, pela denominação de padrinho-padre. Assim aconteceu com o padre Tomaz Araújo que exerceu, durante meio século, as funções de vigário na freguesia do Acari.”

Um outro dos nomes do clero antigo, lembrado também no texto já mencionado, é o sacerdote Francisco de Brito Guerra que muito visitou recantos da freguesia de Sant’Ana quando, em alguns lugares da região, somente uma única vez por ano – quando muito - se avistava um padre. Sobre Brito Guerra, Olivia Morais de Medeiros Neta apresentou, no XXV Simpósio Nacional de História – Fortaleza, 2009, um pouco sobre este grande nome do Seridó antigo: “nasceu aos dezoito dias do mês de abril de 1777, na Fazenda Jatobá, Povoação de Campo Grande, pertencente a Freguesia da Vila Nova da Princesa (atual cidade de Assu-RN). Filho de Manoel da Anunciação de Lira e de Ana Filgueira de Jesus, Francisco de Brito Guerra inicia-se na escolarização das primeiras letras com o Padre Luis Pimenta de Santana na Vila Nova da Princesa. Aos 12 anos muda-se com sua família para a Província de Pernambuco. Lá aprende latim com o professor Manoel Antônio. (MELQUÍADES, 1987). E, em 1801, recebeu ordens sacras no Seminário de Olinda, vindo a assumir a Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó, da Vila do Príncipe em 1802”.

Francisco de Brito Guerra faleceu em 1844 e, conforme arremata a Doutora Olívia, já citada, “seu nome com grafias religiosas, políticas e educacionais na história e na memória da Vila do Príncipe, mas essa escrita não se encontra fechada nesses limites, pois foi atuando como vigário colado da Freguesia da Gloriosa senhora Santa Ana do Seridó, como Visitador Apostólico do Rio Grande do Norte e da Paraíba, como deputado provincial e imperial, como senador do Império e professor de latim.” 

Líderes como Francisco de Brito Guerra e Tomaz Pereira de Araújo, dentre outros, ajudaram a construir os alicerces culturais do povo seridoense, não apenas pela contribuição à formação religiosa, mas também educacional.

A população rural diminuiu consideravelmente nas últimas décadas. O Seridó de hoje é majoritariamente urbano. Existem estradas e a locomoção é, relativamente, fácil para a grande maioria das pessoas. Aliás, muitas das quais que, oriundos da zona rural, participam dos cultos religiosos e eventos sociais semanalmente nas cidades. Contudo, são novos e gigantes os desafios para os atuais líderes religiosos. Enfim, “desobrigas” em outros formatos e em outro sertão.

Fernando Antonio Bezerra é escritor, advogado e colaborador do Bar de Ferreirinha.

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