Procurando conhecer um pouco mais sobre o sertão que nos abriga e revirando o vasto mundo da internet encontrei uma das entrevistas feitas com Oswaldo Lamartine que me despertou especial atenção. O portal “papo de cultura” https://papocultura.com.br/, responsável pela entrevista, conseguiu falar com ele pouco tempo antes de sua partida.
Filho de Juvenal Lamartine de Faria e Silvina Bezerra de Araújo Galvão, Oswaldo nasceu em 1919, no dia 15 de novembro. Faleceu, querendo morrer, no dia 28 de março de 2007. Foi um dos maiores de todo o Brasil ao estudar e a escrever sobre as coisas do sertão potiguar. É fato público e notório que a influência de Juvenal, o pai, foi determinante motivação para a consolidação de sua obra literária. Ele próprio declarou: “fui impregnado disso porque o acompanhei em certo período da cegueira, quando os amigos que vinham visitá-lo eram gente da geração dele, em conversas de velho, evocativa. Então, escutava muito o sertão sendo revisitado…”
Oswaldo Lamartine deixou várias publicações e seu legado tem muito valor. Rostand Medeiros (no site tokdehistoria), em uma das matérias sobre Oswaldo, elencou algumas obras de seu acervo: “Notas sobre a pescaria de açudes no Seridó (1950), A caça nos sertões do Seridó (1961), Algumas abelhas dos sertões do Seridó (1964), Conservação de alimentos nos sertões do Seridó (1965), Vocabulário do criatório norte-rio-grandense (1966), Sertões do Seridó (1980), Ferro de Ribeiras do Rio Grande do Norte (1984), Pseudônimos e iniciais potiguares (1985), Apontamento sobre a faca de Ponta( 1988), Em Alpendres da Acauã (2001) e Notas de Carregação (2001)”.
Uma obra que, sem prejuízo de outros elogios, recebeu de Rachel de Queiroz um dos melhores aplausos: “acho que, no Brasil, ninguém entende mais de Sertão e de Nordeste do que Oswaldo Lamartine.
Um sertão do passado, que pouco vive nos dias atuais, que o próprio escritor também percebeu mudar – e falou sobre as mudanças – com precisão, anotando um dos aspectos mais visíveis dos novos tempos: “O mundo todo está em permanente modificação, não é? E agora, então, depois da eletrônica, acabou-se tudo. O sertão hoje não existe mais. Teve um sertanejo que me veio aqui nestes dias e disse que foi numa feira em São João do Sabugi (no Seridó, a 250km de Natal) e não tinha nenhum animal. Nem burro, nem cavalo, nem sela na feira. Só tinha bicicleta e moto. Antigamente o sertanejo ia pra feira montado em seus animais.”
O sertão que resiste dentro de muitos, de fato, não é o mesmo... A vida não é a mesma. Chegam coisas novas, algumas boas, outras nem tanto. Mas, a preservação de valores e de algumas boas tradições, mesmo na turbulência da viagem terrena, pode ocorrer. E, neste sentido, a obra de Oswaldo Lamartine é inspiradora. Aliás, como inspirador é o texto do extraordinário escritor Vicente Serejo ao descrever uma viagem feita por eles ao Acari de nossas raízes: “Fomos juntos na sua última viagem ao Ingá, a fazenda da infância. Caminhou até depois do alpendre, parou, ficou de pé, como se ouvisse o silêncio das oiticicas, alisando com os olhos, longamente, a Serra do Bico da Arara. Lá longe, recortando aquele azul profundo do seu paraíso nunca esquecido. E disse apenas, como se fosse um adeus: ‘tomara que o céu seja assim’.”
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