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terça-feira, 13 de outubro de 2020

Meu amigo Nelson Kirsch

Ivar Hartmann

Meu amigo mais idoso comemorou 85 anos de idade. Ontem, esta era uma idade alcançada pelos colonos de origem italiana de Veranópolis. Hoje, não espanta as pessoas estarem lúcidas aos 95. Fruto do que aprenderam a respeito da boa alimentação e fazer exercícios três ou quatro vezes por semana. Pelas ruas e praças ou na academia. Deixa eu contar. Apesar de ser um dos últimos netos, conheci meus avós maternos que moravam na cidade de nome mais pitoresco do Brasil: Não Me Toque. Meu avô tinha sido ferreiro e minha avó sempre trabalhara em casa. Ele era um idoso alto, magro e simpático. Minha avó era uma velha atarracada e com cara de braba. São recordações vivas. As vezes a irmã de minha mãe, a tia Erna, minha hospedeira querida, que também morava lá, bem como outros irmãos e muitos filhos, hoje extraviados pelo Brasil inteiro, me mandava almoçar com eles e eu brincava por lá um tempo. Ficou da avó a imagem de uma velha chata. Ficou do avô a visão de um idoso camarada. Hoje são os termos que mais se usa para os longevos: velho ou idoso. O Nelson, idoso alto e forte, tem o estranho apelido de Nelsinho. É bem o contrário.

Caminhava ligeiro, um dia desta primavera ensolarada em Gramado. Em sentido contrário vinha um homem em camisa esporte. Boas roupas de sair para fazer compras, mas não para exercitar o corpo. Com a cara fechada, as feições contraídas, as comissuras labiais viradas para baixo, pensei no instante: este velho deve ser um chato. Com rugas feias, de mau humor permanente. Há outras diferenças: Idoso vive de amor; velho de saudade. Idoso cuida da saúde; velho reclama. Idoso tem planos; velho tem recordações. Um tem rugas bonitas, marcadas pelo sorriso e a alegria de viver; o outro perdeu a capacidade de sonhar e se divertir. Idoso e velho podem ter a mesma idade civil, mas têm idades distintas na cabeça e no coração. E ali, no aniversário do Nelsinho, meu companheiro de jogar tênis, estava a prova disso. O apelido que lhe deram há tempos, não era pela estatura. Era pela maneira alegre de viver e ter sonhos. Segue igual. 

ivar4hartmann@gmail.com


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