A picada da cobra

Ciduca Barros

Dois velhos compadres, sertanejos casados e cheios de filhos, estavam limpando um roçado, quando um deles resolveu dar uma parada para mijar. 

Escolheu uma moita e estava aliviando a bexiga quando uma cobra, que estava enrolada num dos arbustos, deu um bote e o picou exatamente no seu pinto. 

Com a dor, ele gritou e o compadre correu em seu socorro e, com uma foice que portava, matou a cobra. 

Era uma terrível e mortífera cascavel.  

A vítima, segurando a genitália, muito apreensivo, perguntou:

– E agora, meu compadre? O que vai ser de mim, meu Deus?

O outro, muito solícito e solidário, tentou acalmá-lo:

– Não se mova, meu compadre! Fique deitado nessa sombra que eu vou correndo até a cidade e trago a ambulância para transportá-lo.

E assim ele fez. Saiu em desabalada corrida à procura da cidade, que era próxima, à cata de socorro médico. 

Chegando à cidade, muito afogueado pela preocupação com o acidente e, mais ainda, pela corrida, foi até o Posto de Saúde e explanou o sério problema ao médico:

– Doutor, meu compadre e amigo Severino foi mordido por uma cobra cascavel. Ele está lá, deitado debaixo de um juazeiro e precisamos buscá-lo urgentemente!

O médico, após ouvir a dramática história, calmamente explicou:

– A ambulância foi buscar, noutro sítio, uma mulher pra parir.

E apresentou o Plano “B”:

– Informe à enfermeira a localização do seu compadre, que, quando a ambulância chegar, iremos buscá-lo imediatamente. 

E apresentou o ponto “chave” do Plano “B”:

– Enquanto o socorro não chegar, você fique chupando o local em que a cobra mordeu para ir extraindo o veneno.

Agora fodeu!  

Com uma missão insólita dessas, o compadre- socorrista já não voltou com tanta pressa. 

Chegando lá, o compadre vitimado, suando por todos os poros e “tremendo que só vara verde” (como dizia minha avó), perguntou:

– O que foi que o doutor disse, meu compadre?

O outro, que já tinha tomado a sua decisão, mandou bala:

– Ele disse que você vai morrer, meu compadre!

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha