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domingo, 19 de janeiro de 2020

A bicicleta erótica


Ciduca Barros

Quando éramos jovens, diziam que as mulheres deveriam evitar pedalar bicicletas. 
Comentava-se que o selim, em contato com a genitália feminina, fazia a mulherada atingir o orgasmo. 
Hoje, quando fazemos uma retrospectiva até o nosso passado, lembramos que eram raras as bicicletas para uso feminino, que deveriam ter a barra do quadro mais baixa, proteção (interna e externa) da catraca (para proteger o vestido) e, o que era melhor, um selim mais largo e menos fálico. 
Então, no auge daquela história estapafúrdia de que “mulher gozava no selim”, um determinado rapaz proibiu, terminantemente, que a sua namorada andasse de bicicleta.
Namorada minha não anda de bicicleta – dizia ele para os amigos, do alto do seu machismo. E era, fielmente, obedecido. 
Aliás, ela lhe obedeceu até o dia em que o namoro teve um final. 
Certo domingo, ela, a ex-namorada, sabendo previamente onde ele se encontrava com um grupo de amigos, alugou uma bicicleta masculina (naquele tempo alugávamos bicicletas) e pedalou gostosamente em direção ao local onde o seu ex-namorado se divertia. 
E sua vingança, adrede arquitetada, tomou forma. Primeiramente, ela acionou a campainha da bike (este termo só surgiu muitos anos depois desta história) que tilintou barulhentamente, atraindo com isso a atenção de todos (inclusive do seu ex-amado).
Com todos em silêncio e olhando atentamente, ela passou vagarosamente pelo grupo, revirando os seus lindos olhos, grunhindo palavras ininteligíveis e gemendo gostosamente, fingindo assim um escandaloso e ruidoso orgasmo.
O ex-namorado, primeiro ficou surpreso, em seguida, puto da vida, saiu correndo atrás da bicicleta e, com assistência dos amigos, empurrou violentamente a sua ex-namorada, e os três caíram ao solo (os ex-amantes e a bicicleta).
Mas esta história tem um final feliz. 
Posteriormente, eles se casaram e hoje têm filhos e netos.

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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