Ciduca Barros
Quando éramos jovens, diziam que as mulheres deveriam evitar pedalar bicicletas.
Comentava-se que o selim, em contato com a genitália feminina, fazia a mulherada atingir o orgasmo.
Hoje, quando fazemos uma retrospectiva até o nosso passado, lembramos que eram raras as bicicletas para uso feminino, que deveriam ter a barra do quadro mais baixa, proteção (interna e externa) da catraca (para proteger o vestido) e, o que era melhor, um selim mais largo e menos fálico.
Então, no auge daquela história estapafúrdia de que “mulher gozava no selim”, um determinado rapaz proibiu, terminantemente, que a sua namorada andasse de bicicleta.
– Namorada minha não anda de bicicleta – dizia ele para os amigos, do alto do seu machismo. E era, fielmente, obedecido.
Aliás, ela lhe obedeceu até o dia em que o namoro teve um final.
Certo domingo, ela, a ex-namorada, sabendo previamente onde ele se encontrava com um grupo de amigos, alugou uma bicicleta masculina (naquele tempo alugávamos bicicletas) e pedalou gostosamente em direção ao local onde o seu ex-namorado se divertia.
E sua vingança, adrede arquitetada, tomou forma. Primeiramente, ela acionou a campainha da bike (este termo só surgiu muitos anos depois desta história) que tilintou barulhentamente, atraindo com isso a atenção de todos (inclusive do seu ex-amado).
Com todos em silêncio e olhando atentamente, ela passou vagarosamente pelo grupo, revirando os seus lindos olhos, grunhindo palavras ininteligíveis e gemendo gostosamente, fingindo assim um escandaloso e ruidoso orgasmo.
O ex-namorado, primeiro ficou surpreso, em seguida, puto da vida, saiu correndo atrás da bicicleta e, com assistência dos amigos, empurrou violentamente a sua ex-namorada, e os três caíram ao solo (os ex-amantes e a bicicleta).
Mas esta história tem um final feliz.
Posteriormente, eles se casaram e hoje têm filhos e netos.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
Nenhum comentário:
Postar um comentário