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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Diarreias mentais - CLXX


Os rituais do Coronel

Eu estava lendo um livro de Joca Souza Leão, um porreta cronista pernambucano, e me deparei com um texto de sua autoria, publicado no Jornal do Commercio, de Recife (PE), em 28 de dezembro de 2013, cujo título é exatamente “Os rituais do coronel”. 
Por julgar oportuno, mesmo sem pedir autorização ao autor, resolvi dividir sua interessante crônica com meus leitores.
Ele era um daqueles velhos, poderosos e respeitados coronéis nordestinos do passado. Até cangaceiros o respeitavam. A sua biografia é repleta de histórias de valentias e de causos machistas.
Diziam que ele fomentou o progresso de sua região com o seu espírito empreendedor e avançado para a época. Politicamente forte, mandava nos eleitores e nos candidatos do seu tempo.
No entanto, a sua rica biografia não retratou, talvez ainda com medo do seu poderio, os seus inalteráveis hábitos nas noites reservadas ao sexo.  
Primeiramente, ele não tomava banho, nem dormia com mulher ao seu lado. Então, comenta-se que nas noites reservadas às suas atividades sexuais, ele tinha um sagrado ritual. Ceava cedo, sempre uma refeição leve (preferentemente uma canjinha).
No criado-mudo da sua camarinha sempre tinha garrafas de álcool, pacotes de algodão hidrófilo (que a minha avó chamava “algodão fenicado”) e muitos frascos de água-de-colônia. 
Daí começava o seu infalível ritual. Depois do banho na tina, usando chumaços de algodão, esfregava vigorosamente o corpo com álcool e, em seguida, se perfumava com água-de-colônia. 
Ainda dentro do seu cerimonial, batia palmas três vezes para avisar a concubina, que pacientemente esperava no corredor, avisando que estava na hora do ofício, que tinha início no instante em que a mulher entrava na alcova.
Finda a operação, a mulher se retirava do quarto e todos sabiam o motivo, pois o coronel não fazia segredo:
– Durmo sozinho em respeito às mulheres!
E justificava:
– Eu passo a noite peidando!
E dava uma didática explicação:
– A longevidade do homem está nas tripas!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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