Ciduca Barros
Ser testemunha em processo judicial é tão desconfortável quanto ser jurado no Tribunal de Justiça. Eu mesmo já fui convocado para participar de um corpo de jurados na sessão do júri, e dei minhas voltas para me livrar. A história a seguir reflete muito bem o que as pessoas são capazes de fazer para se livrarem do incômodo de darem testemunho em juízo.
Contou-me um amigo e conterrâneo, oficial reformado da Marinha de Guerra do Brasil, que numa base naval localizada em determinado porto brasileiro aconteceu um crime de morte. Numa desavença qualquer, um marinheiro assassinou outro. Logicamente, o processo foi encaminhado para a justiça civil constando em seus autos o nome do suboficial Azevedo (dos Azevedos lá do Seridó) como testemunha ocular do crime.
Bitácula protege a bússola da água e da umidade |
Quem disse que o velho suboficial gostou de ver o seu nome arrolado no inquérito? Ele sabia que, dali em diante, a sua vida ia passar por um período de desassossego com idas e vindas à delegacia e, consequentemente, ao júri popular.
Então ele fez o que muita gente faz: mostrou-se totalmente alheio e desinteressado. Na delegacia, ainda na formação do processo, o delegado lhe perguntou:
– Quer dizer que o senhor é uma das testemunhas de um assassínio?
– Assassínio? O que é assassínio?
O delegado, que já conhecia aquele tipo de testemunha, ficou irritado:
– Como é que um homem que é suboficial da Marinha de Guerra do Brasil não sabe o que é um assassínio?
O velho sub, matreiramente, respondeu com outra pergunta:
– Doutor, o senhor sabe o que é uma bitácula? (*)
– Infelizmente, eu não sei!
E o velho suboficial foi à desforra:
– Como é que um homem que frequentou uma universidade não sabe o que é uma bitácula?
(*) É uma caixa com cobertura de vidro na qual está colocada, em suspensão, a bússola da embarcação. A bitácula protege a bússola da água e da umidade.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
CONVITE
Dia 28 de setembro, Ciduca Barros estará lançando o seu novo livro Casos & Causos da Gente do Seridó.
A obra tem estórias muito engraçadas do povo seridoense, contadas com muito humor e sarcasmo.
Você é convidado do autor e do Bar de Ferreirinha pra prestigiar o lançamento!
Horário: das 8h às 13h
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