Confiante no porvir
Tudo já se falou sobre o trabalho. Principalmente como ele enobrece e engrandece o homem. Para sintetizar o mérito do trabalho nada melhor do que a famosa fábula, atribuída a Esopo e recontada por Jean de La Fontaine: A Cigarra e a Formiga.
Infelizmente, nem todos gostam de seguir o exemplo da formiga. Ainda existem pessoas que, inexplicavelmente, conseguem viver (e sobreviver) sem o lastro de uma honesta e laboriosa lida. Existem alguns, até, que, por não trabalharem, enveredam até pelos meandros da irregularidade, chocando-se com a ordem e a lei estabelecidas.
Irregularidade grave, como transgredir à lei, Adalberto, o personagem central desta historieta, não cometia crimes, mas trabalhar era um verbo que ele não conjugava. O jovem Adalberto, apesar de ter mente e corpo sãos, não fazia absolutamente nada. Além disso, não queria estudar e, para piorar as coisas, não falava em trabalhar. Era o que chamamos comumente de desocupado, malandro, vagabundo, ou como chamamos no Seridó, um parasita.
A sua rotina era: acordar tarde (quase na hora de almoçar), jogar bilhar (já com as chuteiras numa sacola) até a hora da pelada de futebol. Depois disso vinha o jantar e, mais tarde, era a vez de namorar. Saía da casa da namorada para os papos nas esquinas da cidade, até a madrugada, quando se recolhia para recomeçar tudo no dia seguinte.
Nos fins de semana, essa suada e trabalhosa rotina, mudava radicalmente. Com os seus amigos, estes sim reais trabalhadores, caía na farra: festas, vaquejadas, praias, passeios, clubes... Ele tinha uma vida repleta de ócios e diversões.
O seu velho pai, que não era rico – crítico observador e provedor da ditosa vida daquele moço – chegou ao ápice da sua tolerância (perdeu as estribeiras), quando, certo dia, o parasita dependurou uma tabuleta à porta do seu quarto, com estas belas e sugestivas palavras de ânimo e coragem:
– Hei de vencer!
Era um verdadeiro parasita, mas um grande otimista.
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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