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terça-feira, 17 de abril de 2018

Celular mata

Ivar Hartmann

A lei brasileira de trânsito proíbe falar ao celular enquanto se dirige. Qualquer motorista, do pior ao mais exímio, do rápido ao moroso, do antigo ao novato, sabe o que é mais do que conhecido: ninguém pode atender a duas atividades tão díspares, prestar atenção a dois eventos tão diferentes, quanto cuidar ao fluxo do trânsito e atender ao desenrolar de uma conversa ao celular, ao mesmo tempo. Não se discute o que já é incontestável para todos. E que, no entanto, continua sendo feito por nós. No ano passado um filme romântico passou no Brasil. Na primeira cena, em Nova York, o casal jovem e bonito, em um almoço, acertava detalhes para seu casamento. Na cena seguinte ele saia do restaurante, atendia a uma chamada de celular enquanto atravessava a rua e era atropelado. Na terceira cena, já paraplégico, começa o filme. Assustador. O Felipe Massa deve ter mais fãs em Portugal que no Brasil. Grandes cartazes de rua o dão como ex-piloto da Fórmula 1, fazendo uma grande campanha. Em enormes letras, nas ruas de maior tráfego de automóveis e pedestres. Estatísticas mostram que 3.500 pessoas são mortas a cada ano atravessando as ruas.
A França inovou. Os motoristas de Paris não são o que se pode definir como damas ao volante, pois correm como loucos. Ante o contínuo aumento nas estatísticas de atropelamento nas ruas, foram examinar as causas. Sim os motoristas continuam com a maior culpa e imaginem quantos usando celular enquanto dirigem. Mas, verificaram que um grande número de pedestres tinha sido atropelado com um celular nas mãos. Não é muito difícil somar um mais um. Iniciaram então uma nova campanha de trânsito. A pessoa vai atravessar a rua com o sinal vermelho com ou sem o celular nas mãos. Uma freada assustadora de cinema, a faz pular para trás. O susto é enorme e fica estampado na fisionomia. Quando ela salta de volta para a calçada e procura o carro, é um autofalante colocado em um poste. Em qualquer país, falar pelo celular é normal nos nossos atos diários; passa despercebido o perigo a que somos expostos quando dirigimos com o celular na mão ou atravessamos uma rua sem cuidado, distraídos com uma chamada. Há poucos anos, nenhum aviso ou recado podia ser dado que não fosse pelo telefone fixo.  De acordo com isso agíamos. Com o celular mudamos de atitude e qualquer chamada é como se fosse para tirar nosso pai da forca.
ivar4hartmann@gmail.com

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