Ivar Hartmann
Acho que a única cidade do mundo ocidental cujo nome é uma frase é Não Me Toque. Uma vez a burguesia local trocou-lhe o nome porque o achava feio. A população local, mais inteligente e descontente, fez voltar o nome antigo. Tenho uma montanha de parentes espalhados pelo Brasil. Os que dizem que são de lá, as pessoas olham de novo. Já é uma vantagem para iniciar conversa. Se você disser que nasceu em qualquer outra cidade brasileira, isso passa batido. Minha tia Erna - desquitada se dizia na época - era padeira em Não Me Toque. Como tinha um monte de filhos para sustentar, era pessoa de muito trabalho e pouca conversa fiada. E quanto a estas conversas vazias de comadres, em que, quem conta um conto acrescenta um ponto, contava permanentemente a mesma história, dando como local a própria cidade. Uma faladeira local foi se confessar com o padre. Este que a conhecia bem resolveu lhe dar uma lição: “A senhora vai para casa, pega seu travesseiro (que eram enchidos com penas), sobe o morro do cemitério em um dia de vento e, lá em cima, abre e deixa as penas voar. Depois pega uma por uma, coloca de novo na fronha e venha cá que lhe darei absolvição”.
“Mas isso é impossível” - retorquiu a beata - “nunca vou conseguir pegar as penas de volta”. Disse-lhe o padre: “Assim é com as conversas que a senhora propala na cidade. Nunca vai conseguir desmentir para todas as pessoas que falou”. Pode ser fábula pode ser verdade. Minha tia contava como verdade. Isso vem a propósito da onda de boatos, sobre o passado da vereadora morta no Rio. Uma porção de informes inundou as páginas do Whatsapp e Facebock. E foram multiplicadas por mil porque as pessoas repassaram as informações sem saber se eram ou não verdadeiras. Exames feitos nos dias seguintes desmentiram as notícias. Resultado: muita gente boa se desculpando por ter apressadamente repassado o que parecia ser verdade e não era. Ou seja, maculando a imagem da morta. Foi uma boa lição. Quando recebemos uma notícia pelas redes que vem de encontro ao que pensamos, fazemos um juízo rápido de que é verdade e repassamos. Se não é, apagamos. É natural em todos nós. Crentes de que ninguém nos passaria uma informação falsa, repassamo-la. No entanto, o que mais tem nas redes são pessoas desocupadas, mentirosas congênitas, profissionais da invenção, sempre em busca de tolos para informar falsamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário