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domingo, 18 de março de 2018

Rádio Globo

Ciduca Barros

Creio que depois do advento da televisão o problema tenha amenizado, mas acredito também que, nas cidades do Seridó, as pessoas ainda comentam muito a vida alheia. 
Este causo ocorreu há décadas, ou seja, antes da chegada da telinha, portanto, quando as pessoas interioranas ainda tinham a língua muita afiada.  
Aquele sujeito falava tanto (e tão mal) das pessoas, que o seu apelido passou a ser Rádio Globo. 
Ele divulgava tudo (e mais alguma coisa) do que ocorria na sua cidade. 
O homem era como dizia a minha avó: “uma língua ferina”.
Ele era adepto daquela terrível máxima que diz: “eu não invento, só aumento”. 
Certo dia, as ondas do maledicente Rádio Globo caíram. 
Ele andou falando umas “coisitas” maledicentes de uma senhorita da cidade e o pai dela, tomando conhecimento, ficou prostituto da vida.  
Como dizem que “toda donzela (Rádio Globo dizia que não era) tem um pai que é uma fera”, o pai da moça partiu para tomar as devidas satisfações com o maldizente.
Encontrou-o numa das ruas da cidade e, como era de se esperar, encheu o enxovalhador de pancadas. 
No entanto, o pai exagerou: deu tantas bordoadas em Rádio Globo que, como consequência, ele passou vários dias “hospedado” no hospital, mas graças a Deus escapou com vida.  
Santas cacetadas. 
Alguns dias depois, já quase restabelecido, mas ainda claudicando, alguém o encontrou e fez a tradicional pergunta: 
– E aí, Rádio Globo! Quais são as “novas” da cidade? 
– Não sei de nenhuma. Quebraram a minha antena – foi a sensata resposta do ex-maledicente.

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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