Ciduca Barros
Quem perambulou pelas cidades do interior deste imenso país, logicamente, conheceu seus habitantes esquisitos e seus inúmeros casos e causos e tem muitas histórias para contar.
A serviço do Banco do Brasil, eu conheci pequenos municípios brasileiros (em vários estados da federação), daí acumulei muitas histórias (vistas, vividas e vivenciadas).
Na década de 1960, quando comecei a minha vida profissional, residi em Currais Novos (RN) cidade onde, entre tantas outras histórias, também aconteceu esta que passo a contar.
Era alta madrugada, com uma chuva torrencial caindo no telhado e os raios cortando os céus do sertão, quando o médico da cidade foi acordado por alguém batendo na porta da sua residência.
Depois de hesitar, ele resolveu atender àquelas batidas (naquela época ainda não havia a violência dos dias atuais).
Através das venezianas da janela, ele já verificou que era um conhecido morador da cidade, acompanhado de seus filhos.
Abriu a porta e aquelas pessoas, todas aparentando uma grande preocupação, entraram em sua casa (molhando o piso e sujando o carpete).
– E aí? Qual de vocês está tão doente ao ponto de me acordar nesta madrugada com tanta chuva? – perguntou o médico.
– É o nosso pai, doutor! – disse um dos filhos, apontando para o velho.
O médico, que passou a ficar mal-humorado, virou-se para o velho e perguntou:
– Onde é a sua dor?
– Não estou com nenhuma dor não, doutor!
– E o que está lhe incomodando tanto?
Então o paciente contou a sua estapafúrdia história:
– Doutor! Eu jantei às seis horas da tarde!
Olhou para o relógio e continuou:
– São três horas da madrugada e eu ainda não arrotei!
Se o médico estava de mau-humor, daí em diante ele ficou mesmo foi “puto da vida”.
Recostou-se no espaldar da cadeira e ficou fitando o ansioso grupo.
Isto ao som de ribombantes trovões.
Quando voltou a si, o médico pegou a caneta e seu o receituário e rabiscou a medicação e entregou ao paciente, dizendo:
– Agora vocês vão acordar Manoel do Bar!
Então foi a vez dos participantes do grupo ficarem surpresos (inclusive o falso doente) e um deles indagou:
– Que remédio é esse que vende num bar, doutor?
– Coca-Cola! – foi a resposta do médico, sarcasticamente, dando por encerrada à consulta da madrugada.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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