Ciduca Barros
No tempo da nossa doce e despreocupada juventude, em Caicó, a nossa cidade, havia apenas três praças públicas: do Rosário, da Liberdade e a Doutor José Augusto.
Na verdade, a Praça do Rosário, conhecida assim pelo fato de ali se localizar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no nosso tempo era simplesmente um largo, um descampado onde, às vezes, os circos eram armados para a alegria da molecada da época.
Praça do Rosário |
Por falar em circo e em alegria, foi ali que vimos, pela primeira vez, o palhaço e ilusionista Alegria, grande circense do passado.
Na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, anualmente, sempre no mês de outubro, é realizada a Festa do Rosário, segunda grande festa de Caicó, depois da Festa de Santana, é claro. Não fugindo à tradição, é na Praça do Rosário, atualmente modernizada, que as barracas e os parques são instalados e as quermesses são realizadas, com o abrilhantamento da Irmandade dos Negros do Rosário, entidade criada em 1771 e que perdura até os dias de hoje, realizando as suas coreografias folclóricas, utilizando lanças ou espontões, simulando uma guerra tribal.
Praça da Liberdade, hoje, Senador Dinarte Mariz |
No entanto, para várias gerações de caicoenses, a praça de maior simbolismo na vida de cada um, chamava-se Praça da Liberdade, hoje Praça Dinarte de Medeiros Mariz, mas, para todos nós, simplesmente era "A Pracinha" ou "A Pracinha do Coreto”.
Para mim, ela deveria se chamar “Praça dos Amores”, “Praça dos Apaixonados” ou “Praça dos Namorados”, pois foi justamente lá onde começaram (e terminaram) inúmeros romances.
Como já dito em texto anterior, na Praça da Liberdade ficava situado o único cinema de Caicó, o Cinema Pax, do senhor Clovis Medeiros, onde assistimos grandes clássicos do passado, filmes que foram introduzidos em nossa jovem memória, permaneceram por toda a nossa existência e que jamais deixarão nossas velhas e doces lembranças.
Se a Festa do Rosário se desenrola no mês de outubro na Praça do Rosário, era na Praça da Liberdade que ficava o agito das monumentais Festas de Santana do nosso passado. Na Praça da Liberdade de outrora, durante as Festas de Santana do passado, eram armados os parques de diversão, inclusive o saudoso Parque Lima de muitas histórias.
Apenas para exemplificar, um amigo acabou um namoro, enquanto ambos “rodavam” na roda-gigante do Parque Lima e, segundo ele, quando estavam na parte mais alta.
Como eu disse em crônica anterior:
“Naquela praça nós paqueramos (flertamos, lembram-se?), namoramos, sonhamos, brigamos, rimos, choramos, ficamos eufóricos e tristes. Os seus bancos foram testemunhas de grandes idílios. Os seus bancos ouviram lamentos e queixas, mas, por outro lado, também ouviram muitas declarações de amor de casais que ainda hoje estão juntos, de cabelos encanecidos, com filhos e cheios de netos”.
E, finalmente, nossa bucólica Praça Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros, ou, simplesmente Praça Zé Augusto. Aquela praça, apesar de arborizada e acolhedora não era muito frequentada por nossa geração. Ali permaneciam um ou outro casal de namorados que procuravam alguma privacidade e só. O Grupo Escolar Felipe Guerra, onde muitos de nós aprendemos as primeiras letras, ficava situado naquela pracinha.
Durante algum tempo, funcionou nas instalações do Grupo Escolar a Escola Normal de Caicó, um colégio essencialmente feminino, fundado e dirigido pelo padre e educador José Celestino Galvão.
Na Praça Dr. José Augusto, numa época de ensaio das garotas da Escola Normal para os desfiles em comemoração ao Sete de Setembro, de mil novecentos e votes, foi onde aconteceu aquela história “tragicômica”, já narrada por mim em livro, quando uma das normalistas em plena parada, em passo marcial, o botão da calcinha quebrou e ela (a calcinha, é claro) desceu nas pernas e ela (a normalista, é claro), acertou o passo e deixou a sua peça íntima no meu da rua. Quem foi ela? Até hoje não sabemos quem foi, mas acredito que, hoje, ela deve estar cheia de netos e com um manequim bem maior.
A nossa geração chamava, carinhosamente, a Praça Zé Augusto, de “Praça do Dedo”. Espere! Nada de fazer deduções apressadas. Era apelidada de “Praça do Dedo” porque, no centro, havia uma estátua, de corpo inteiro, do grande político seridoense Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, de dedo em riste, pronunciando um belo discurso, como grande orador que ele foi.
Praça Doutor José Augusto, ou Praça da Alimentação |
A Praça Doutor José Augusto de muitas gerações de caicoenses está visceralmente modificada. Ali foram construídas modernas barracas/quiosques para servir alimentos e, à noite, é o “point” mais frequentado da cidade.
Entretanto, a Praça Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros não é mais conhecida por seu bucolismo. Recentemente, estive em Caicó para participar de mais uma Festa de Santana, versão 2018. Certa noite, do hotel onde estávamos hospedados (Hotel Porto Belo, do nosso amigo Tarcísio Vaca Veia) apanhamos um táxi com destino à Praça Zé Augusto. Anunciei o destino para o taxista e ele, por duas vezes, me perguntou:
– Pra onde?
Somente na terceira vez, foi que ele entendeu o destino e falou:
– Ah! Vocês querem ir para à Praça da Alimentação!
Curioso, né? A cidade de Caicó não tem um moderno shopping center, mas tem uma praça da alimentação.
Para mim, e para várias gerações de caicoenses, as três estão lacradas no mais recôndito dos nossos corações como as praças de nossa liberdade do passado!
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
A leitura é tão gostosa que . quanto mais eu leio , mais vontade tenho de ler ; mais saudade sinto da minha querida terra , de tudo que deixei por lá ! Que saudade do cine Pax, da Praça da Liberdade ; da minha adolescência e dos sonhos que não pude realizar! Parabéns , Ciduca , por um texto tão bonito , por uma clareza tão grande de expressão e por trazer às nossas lembranças, um passado que jamais será esquecido !
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