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terça-feira, 4 de setembro de 2018

Minha dívida com o Paixão

Ivar Hartmann

Todo gaúcho tem uma dívida com Paixão Côrtes. Impagável agora que morreu. Dezenas de músicas recolhidas de nosso folclore no século passado e quando ainda o era possível fazer. Livros que ensinam o bê-á-bá da tradição e de nossas danças. Centenas de Centros de Tradição Gaúcha espalhados pelo Brasil. Centenas de moços e moças ligados pela tradição gaúcha, que anualmente disputam os gigantescos festivais da ENART depois de concorridas pré-seleções. Milhares de bailes tradicionalistas semanais realizados ao som da música nativa. Centenas de milhares de gaúchos que durante o ano, por hábito, frequentam os CTGs onde são associados, em busca de diversão sadia e amizade fraterna. Mais importante ainda quando a moderna psicologia diz que confraternizar é fundamental para a saúde mental. Os CTGs são a maior essência disso, dedicados à música, dança, leitura, ao baile e a reunião social. E a quantidade de músicos e lojas que fornecem a infraestrutura para estas atividades? Impossível mensurar o valor destas atividades para o Brasil. Originada em uns piás do interior do Rio Grande, que encilharam cavalos emprestados e vestiram-se da forma gauchesca possível, naquela Porto Alegre antiga, para lembrar a Revolução Farroupilha. Nem eles imaginavam o grandioso resultado.
Deve ter sido um acontecimento. Para os piás e para os transeuntes que os miravam. Além dos atrapalhos que certamente causaram ao trânsito. Buenas. O último a se despedir desta querência para ir para a querência eterna, como gostam de dizer os tradicionalistas, foi o Paixão Côrtes. Bigodão, com longas suíças também brancas, igual ao avô dos contos de Papai Noel. Ele e tantos historiadores, poetas e pesquisadores rio-grandenses, ao longo das décadas, sedimentaram a cultura gaúcha. Mas o despertar foi lá. Pelo amor a esta terra, que une os corações das gentes de origem portuguesa, alemã, italiana, africana, e tantas outras, que fizeram da terra dos índios, também a sua terra. Movimento como este do tradicionalismo não tem similar no Brasil. Algumas coisas que são comuns a maioria dos gaúchos, como tomar chimarrão e gostar de fazer ou comer churrasco, a par das milhares de famílias alemãs e italianas, que trouxeram músicas de acordes rápidos, parecidas com  as músicas trazidas pelos portugueses, certamente auxiliou a difusão do gauchismo que une brasileiros de norte a sul do país.

ivar4hartmann@gmail.com

Um comentário:

  1. Em Londrina, Pr temos todo domingo o programa "Sons do Minuano" que não perco por nada, apresentado por Lisandro Perin na Rádio Universidade de Londrina.

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